quinta-feira, 5 de março de 2009

O Deus Selvagem: 100 anos de vanguardas modernas

Os futuristas desfilam a última moda em Milão: Marinetti & Rossolo, Carrà, etc.

O Manifesto del Futurismo fez 100 anos no dia 20 de fevereiro, e se tornou vintage: os cartazes desafiadores são peças famosas de design & a velocidade de seus aeroplanos & automóveis, com que se entusiasmavam tanto, é hoje insignificante.

A rebelião futurista com os museus levou algumas das peças magníficas de artistas futuristas, como Umberto Boccioni, justamente aos museus: podemos apreciar tranqüilamente sua célebre Forme uniche della continuità nello spazio, de 1913, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da Universidade de São Paulo, por exemplo.

O período das vanguardas, que chegou a um século inteiro agora, foi a resposta à pergunta que William Butler Yeats formulou em carta, em 1896, após assistir à ultrajante (na época) estréia do louco Ubu Roi, de Alfred Jarry: What more is possible? After us the Savage God.

É uma coisa curiosa para se pensar sobre o modernismo, & sobretudo esse chamar uma coisa moderna e pôr um ismo no final: maquinário velho é sucata, & o deslumbramento de Marinetti & mais uma pilha de artistas que embarcaram nessa é hoje visto com escárnio ou cortês piedade.

Mesmo Yeats, que achou, na época do Ubu Roi, que lá estava o beco-sem-saída da arte, assistiu às vanguardas que barbarizaram sua idéia de “deus selvagem”. E nós já vimos mais coisas depois de tudo isso.

As pessoas andam ansiosas por pôr um ponto final na História — uma atitude, digamos, meio bélica — há mais de um século, como se vê: mas ela prossegue. O nome agora é pós-moderno, cujo emblema deverá ser um cachorro rodopiando a tentar morder o rabo. Ou uma animação de Marinetti tentando morder a ponta de seus longos bigodões.

Há algo para pensarmos que ainda não foi pensado, & isso desde que as vanguardas inventaram o século XX. O que as vanguardas significaram, & como ver o mundo depois delas, sem negá-las nem repeti-las irrefletidamente, ainda é a questão.

Não obstante, meus parachoques aos futuristas & seu centenário, especialmente a Boccioni e aquele semi-futurista, Ardengo Soffici, que escreveu ótimos poemas. E a Marinetti, autor de ótimas idéias para manifestos.

Um comentário:

gilson figueiredo disse...

ficamos sempre ansiosos pelas palavras de Dirceu, o caríssimo: não sei como é aí em sua Terra, mas os baianos apreciam muito seu blog, sempre, alias, bastante inteligente: lúcido alias.