quarta-feira, 7 de maio de 2008

EZRA POUND E A INVENÇÃO DA POESIA MODERNA


EZRA POUND E A INVENÇÃO DA POESIA MODERNA
por Dirceu Villa

Quartas-feiras: 14, 21, 28 de maio e 4, 11, 18 e 25 de junho, das 19 às 21hs
Vagas: 30
Inscrição: R$10,00
CASA DAS ROSAS
Av. Paulista, 37, Bela Vista. São Paulo - SP
http://www.apaacultural.org.br/casadasrosas/


Uma proposta de ler, em sete encontros, a tradição do modernismo a partir da obra e das idéias de um de seus principais e mais controvertidos poetas, Ezra Pound. Cada encontro focaliza um tema fundamental na obra de Pound, e o estende ao modo como se refletiu no modernismo. Não é necessário nenhum conhecimento prévio. Durante os encontros serão lidos e discutidos poemas em tradução para o português e as referências serão contextualizadas. Conta com material de apoio impresso e recursos de áudio.

domingo, 4 de maio de 2008

1968 & O SÁBIO PROFESSOR PANGLOSS

Cartaz do período, com o velho De Gaulle vestido de sombra: "Seja jovem e cale-se".


Se você comprou a Folha de São Paulo hoje, teve a paciência (ou mesmo aquele ataque de tédio que te empurra a fazer besteira) e leu o caderno Mais!, viu que foi dedicado, é claro, a maio de 1968.

Nessa data uns estudantes de por volta de 20 anos fizeram um estardalhaço nas ruas de Paris, Praga & outras localidades menos bacanas, como sabeis. Tomaram universidades venerandas e caducas, colocaram a polícia patriarca em polvorosa. Houve a contracultura, o amor livre (não havia a Aids, lembra?) & houve ótimas idéias de frases desafiadoras. Etc.

E o que a Folha fez? Chamou um monte de professores universitários, confortavelmente assentados em suas posições de bem-pagas autoridades, que escreveram textos nostálgicos & insinuaram em geral que as gerações mais jovens, ah, essas aí são um bando de lerdos & conservas, em todos os sentidos.

Os mais jovens, por sua vez, provavelmente são aqueles que responderiam: "A geração de vocês queria mudar o mundo. Parabéns, vocês conseguiram", com aquelas cenas de desastres climáticos por todo o planeta. De ambas as partes, é tudo verdade.

Resumindo, para não esticar conversa de bêbado: redundou numa troca de elogios, igual àquela que a gente observa quando dois quadrúpedes se estranham num passeio, repondo em circulação o batidíssimo clichê do "conflito de gerações". Os marcos históricos são feitos por pessoas e, como elas, envelhecem.

Os jovens? Esses se calaram. Não há mais o que inventar. Ou, como um(a) jovem pergunta na entrevista com o Daniel Cohn-Bendit: "vamos nos revoltar contra o quê?".

Mas isso já é o sábio professor Pangloss falando com outro nome, não é mesmo? Eu acho que é.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

GIAN LORENZO BERNINI (1598-1680)

Busto de Constanza Buonarelli, por Gian Lorenzo Bernini

Ontem assisti ao programa apresentado por Simon Schama, que a TV Cultura exibe à noite, onde o historiador fala de pontos-chave na arte européia. Nem todos os capítulos me interessam, mas dessa vez foi diferente: tratava-se de Gian Lorenzo Bernini, que provavelmente é meu escultor predileto.

Estava curioso para ver no que resultaria o programa, porque havia assistido ao capítulo dedicado a Pablo Picasso sem ficar muito satisfeito com Schama. A percepção dele de que depois de Guernica a obra do espanhol desandou me parecia afetar um tipo peculiar de incompreensão com obras modernas.

Mas deve ser um problema com o modernismo, mesmo. O de Bernini foi um programa exemplar: bastante calcado na biografia do autor (como dificilmente deixa de ser o caso em programas de divulgação), não se resumia a isso. O modo como Schama apresentou as múltiplas contribuições inovadoras do artista para a escultura denunciava amor e aquela admiração que nos leva ao escrutínio da obra.

Assim, o ponto alto do episódio ficou com a descrição particularizada e bela que fez do Êxtase de Sta. Teresa D'Ávila:

Schama destacou a relação entre as descrições de êxtase da santa, publicadas e imensamente populares à época, e a interpretação escultural que Bernini lhes deu. Assinalou o estratagema de fazer a escultura suspensa, para representar as descrições de levitação; a câmera do documentário, funcional, apontava para a delicadeza dos dedos desse anjo (que nos recorda mais o filho de Afrodite) tocando a túnica da santa; nos lembrou também que o texto fala numa "seta dourada", a mesma que o sorridente anjo porta na peça, mas, neste caso, direcionada para uma região do corpo que fica, na verdade, bastante abaixo do coração (o lugar descrito por Teresa D'Ávila).

O êxtase evidentemente carnal - como o rosto da santa não nos deixa duvidar - é também o êxtase da presença divina, que vemos descer em forma de raios de luz dourada ao fundo e acima. Mas o principal, como ressaltou Schama, é o que Bernini fez ao drapeado da túnica. Disse algo como se the marble was melting, "o mármore derretesse", visualmente, para encenar as convulsões prazerosas do corpo escondido sob a veste. O tecido se torna quase líquido, fluido, no contrasenso patente de ser pedra.

Bernini entendia tanto de movimento quanto de carnalidade, percebemos, de um modo único na história da escultura. Admiramos Boccioni, futurista, quando nos deslumbra com seu registro do movimento numa arte por definição imóvel em Formas Únicas de Continuidade no Espaço (há uma cópia dela no MAC, da USP), mas aqui em Teresa D'Ávila, e também em seu Davi, estão as origens disso.

Umberto Boccioni, Formas Únicas de Continuidade no Espaço

O Êxtase de Sta. Teresa D'Ávila é uma peça da maturidade, mas já encontramos seu "conhecimento carnal" muito anteriormente, numa obra de seus 24 anos, chamada O Rapto de Prosérpina, de que dou o exemplo de um enquadramento específico, um detalhe:




É notável o afundamento dos dedos de Plutão na pele de Prosérpina, deixando literalmente "palpável" tanto seu esforço para a fuga quanto o empenho do deus em agarrá-la, causando aquela maravilha de nos fazer duvidar da pedra, como duvidamos da tela quando observamos a gota d'água escorrendo pelo vaso, em primeiro plano, no Aguadeiro de Sevilha, de Velázquez.

Já no topo deste texto, no busto de sua amante Constanza Buonarelli (em que a palavra "busto" ganha então um duplo sentido), é evidente o decote que revela o volume dos seios sob a camisa, complementado pelo rosto passional. Mas não é apenas isso: Bernini era capaz de uma doçura inigualável a desenhar lábios entreabertos, com contornos suavíssimos, de um arredondado de delicadeza extrema, e esse é um claro exemplo disso: a inspeção próxima revela essa intensa doçura do acabamento. Schama demonstra a novidade, retomando de qualquer forma os antigos bustos romanos, que era esculpir um busto íntimo, não dedicado a figuras públicas.

Por fim, ainda falta mostrar Apolo e Dafne, que é até hoje uma das ilustrações mais espantosas de um conto das Metamorfoses ovidianas, e reincide nessa perseguição passional, tema caro a Bernini. Encontramos o casal quando Apolo já quase a alcançava, atiçado pela flecha do Amor, e ela, Dafne, repelida por um truque do mesmo deus, conseguindo a graça de ser transformada em loureiro.


Junto das pernas de Dafne, vemos subir a casca do loureiro já cobrindo a pele, com texturas completamente diversas, e nos pés notamos os dedos que já se projetam para baixo como raízes. Folhas e galhos crescem das pontas dos dedos das mãos e dos cabelos na transformação. A riqueza de detalhes das folhas é algo extraordinário, e Schama destaca o fato de que os escultores que auxiliaram nesses detalhes ficaram furiosos, obviamente, ao não receber os créditos, coisa que o mau-caráter Bernini fez também ao arquiteto Francesco Borromini em outra ocasião.

Nessa escultura, como nas outras, é fascinante o cuidado com o registro do movimento. Evidentemente que, ao contrário de Boccioni, não interessa a Bernini a constatação da estrutura formal do movimento, dada como evidência, mas o apelo dramático, teatral, que confere ao episódio retratado. O que capta, aliás, e é importante lembrar, o caráter cinematográfico também avant la lettre das Metamorfoses (já lembrado por Augusto de Campos, no livro Verso Reverso Controverso).

Foi um excelente documentário. E motivou a presente tagarelice, como vocês vêem.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Coupper Bresil, pour en faire trafique

Página de Recueil de la diversité des habits, qui sont de present en usage, tant es pays d’Europe, Asie, Affrique & Isles sauvages, le tout fait apres le naturel, de François Desprez, 1564.


L'homme du lieu auquel le Bresil croist
Est tel qu'icy, à l'oeil il apparoist,
Leur naturel exercice l'applique
Coupper Bresil, pour en faire trafique.

Além do comentário francês, em versos, que com o tempo se tornou alegoria muitíssimo irônica, o livro é uma obra-prima de impressão & gravura francesas, com representações imagéticas de figuras, como "Le Ciclope", que são uma mistura de Rabelais e Bosch. É possível ver uma versão facsimilar completa no site francês Les Bibliothèques Virtuelles Humanistes (que tem um monte de outras coisas interessantíssimas, também):

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

MAIRÉAD BYRNE

A poeta irlandesa radicada nos EUA, Mairéad Byrne, no programa de rádio Eclectic Seizure

Estou traduzindo, faz algum tempo, os poemas de Mairéad Byrne para um grupo de estudos irlandeses. Poeta muito peculiar, que escreve desde longos & complexos poemas com jogos aliterativos inteligentes e bem compostos (vejam abaixo minha tradução do início do longo "The Pillar") até poemas que incorporam a tradição estadunidense da stand-up comedy, epigramas, e mesmo por vezes poemas de engenho steiniano.

Não teme a rima, nem o riso (freqüentes em suas leituras públicas) & nem o patrimônio das vanguardas. Escreve uma poesia povoada de inteligência, força & delicadeza, e nos surpreende a cada novo movimento.

Links para os interessados: SOS Poetry, para download na UBUWEB

E o blog de Mairéad Byrne, aqui

Áudio (leituras & entrevista)

Aos poemas, na minha tradução, apenas para tira-gosto. "O Pilar" foi publicado em Nelson & The Huruburu Bird (2003) e "Três Poetas Irlandesas" em Talk Poetry (2007) :

O PILAR (início)

Agora sou apenas um capitão, mas, se sobreviver, irei para o topo da árvore.
Horatio Nelson a Sir William Hamilton

Nuvens voam, e mais, em céu cinzento e, sim,
gaivotas guincham indo à baía e, acho, ao fim
da garganta do rio, e o céu desprende
bandeiras de chuva, neve, escuras sementes
de amarilho, frio; o familiar antigo granizo
esvazia a aurora, desaba nos dias,
nas noites amarelas da cidade; e sua lisa
cabeça como lagarto, cascavel, basilisco,
inserida em nosso céu e no clamor
e clangor dos sinos, Nelson, nosso senhor.


TRÊS POETAS IRLANDESAS

Editores de antologias & números especiais sobre poesia irlandesa anotem: estou disponível para inclusão nessas publicações em três facetas: poeta irlandesa, poeta irlandesa inovadora e, como o campo anda bem aberto, primeira poeta concreta irlandesa*. Forneço coleções completas de poemas para cada identidade, e nomes escolhidos com sensibilidade mas ainda pronunciáveis: Minnie O’Donnell, poeta irlandesa; Clare Macken, poeta irlandesa inovadora; e Bo Doyle-Hund, primeira poeta concreta irlandesa. Amostras disponíveis incluem: “Meu Rádio Transístor”, “Léim an Bhradáin”, “Ritos de Passagem” (Minnie O’Donnell); “Trans/ís/t”, “Apóstrofe para Finnegan”, “Capacidade Eleitoral” (Clare Macken); “ciúnas”, “’”, e “18” (Bo Doyle-Hund). Trabalho numa quarta identidade ― “Poeta Notável Ela-Mesma”. O título provisório da personagem é: “Mairéad Byrne”.


* Sem mais piadas sobre canteiros de obras, por favor.

Les dadaïstes (+ som & imagem)

Colagem de Kurt Schwitters, 1947

A revista Modo de Usar & Co disponibilizou, em sua versão digital, arquivos de poesia visual e sonora (como o Schwitters aí de cima).

Textos sobre Hugo Ball, a linguagem MERZ de Schwitters (et les dadaïstes, en générale) por Ricardo Domeneck, que publicou ótimas traduções de Hans Arp, entre outros daquele time, na versão papel da revista.

O material novo vocês encontram bem aqui:
http://revistamododeusar.blogspot.com/

Gaudete.


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

ELA, DE NOVO

Capa de Jukebox, novo disco de covers (às vezes de si mesma) de Cat Power

Belíssimo disco. Basta ouvir a versão dela pra "New York, New York". Numa palavra: obrigatório.

aula magna na escola superior de política

engasgam várias vezes esses tagarelas
fazem discursos gesticulando com as mãos
alguém saberia me dizer
se isso é algum tipo de tradição?
ajudaria saber que ao menos
obedecem a uma fatalidade estilística

siglas infernais e ternos cafonas
amantes que querem alforria através
de Hugh Hefner & processos na justiça

(é claro que quando se diz justiça
buenas, ponha ao menos entre parênteses
itálico, demonstre algum cuidado)

os músculos da barriga ficam flácidos
barrigas definem um perfil
algumas mal cabem no conceito de camisa e vazam
eles discutem ninharias fingindo convicção
mas têm um tempo na tv, sabe como é:
se eu fosse um canalha obrigaria as pessoas a me ouvir

são uns bonecos
sempre tive medo desses bonecos de ventríloquo
eles são uns podres falam com línguas de cobra

talvez atrás do palanque haja uma enorme
mão enfiada em seus traseiros movendo
até mesmo a ponta de seus dedos
são uns bonecos da ambição

mas qual era a sua dúvida sobre isso?

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

ACORDADOS

A artista plástica Alessandra Cestac, em foto de João Wainer para a série Nua na Rua


Sim, este blog tem abusado da velha tópica latina do otium cum dignitate.

Mas, para começar realmente bem o ano de 2008, esta aqui é a primeira postagem, com ótima notícia.

O que vocês vêem acima é a capa, a partir do trabalho impressionante de João Wainer & Alessandra Cestac, para o romance Acordados, da poeta (escrevo poeta, mas aí está uma pessoa multifacetada) Ana Rüsche, romance que venceu o PAC & vai ser lançado nesta semana.

Então, meus caros, aí vão todas as informações para ninguém perder, até porque o livro, que ganhou uma distribuição muito peculiar (veja aqui: http://www.acordados.wordpress.com/), custará R$ 5,00 nesses dois dias de lançamento, infra.

Lançamentos:

Dia 18 de janeiro de 2008, 20h (sexta-feira).
Espaço d'Os Satyros, Praça Roosevelt, São Paulo
- Apresentação por Juliano Pessanha
- Teatro Livro com Os Satyros

Dia 19.01.08 (sábado). Feira Moderna,
R. Fradique Coutinho, 1246, Vila Madalena.
A partir das 14h.
Preço nos dias 18.01.07 e 19.01.07: a preço de custo, R$ 5,00.
Preço normal: R$ 20,00