terça-feira, 26 de junho de 2007

Il Teatro alla Moda


Benedetto Marcello, músico, autor de um dos mais belos concertos já escritos para oboé, escreveu um texto espirituoso sobre música, chamado Il Teatro alla Moda (1720), de onde pesco este trecho sarcástico. Estará falando do libretista, mas vale para os poetas:

In primo luogo non dovrà il Poeta moderno aver letti, né leggere mai gli Autori antichi Latini o Greci. Imperciocché nemmeno gli antichi Greci o Latini hanno mai letto i moderni.

“Em primeiro lugar não deverá o Poeta moderno ter lido, nem ler jamais os Autores antigos Latinos ou Gregos. Mesmo porque sequer os antigos Gregos ou Latinos chegaram a ler os modernos.”

segunda-feira, 25 de junho de 2007

deus ex musica

Glenn Gould se apressa loucamente
como se Bach pisasse em brasa
ou o Kammerchor nos motetos sublimes

Gott, nimm dich ferner unser an
— é só o que peço

*

Glenn Gould o dia todo revirando Bach
na minha pobre cabeça
revirada de nomes datas & textos literários

(de medianos a ruins)

:

os chamados ossos do ofício
às vezes duros de roer.

Perspectiva

Yo mismo, em foto de Fabiana Faleiros

E houve o Banquete na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, com público ainda reduzido, mas atento; com as poltronas azuis de tecido; nossos caros simpáticos mordazes poetas empoleirados como eu aí em cima no microfone, & como o som se expande! É o que suponho a foto da minha chérie Fabienne queira dizer com o ângulo que dá espetáculo de Basílica ao concreto das paredes & do teto, & rima visualmente com o paletó de concreto: não o mundo inóspito do som, mas o som puro, som mineral, som de brilho & peso. Fabiano Calixto & eu descansamos, por enquanto. O Banquete volta novo em agosto, na Biblioteca Alceu Amoroso Lima. Muitos poetas bons já leram no evento, muitos poetas bons ainda lerão no evento.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

FLAP 2007: CONTAMINAÇÕES



São Paulo:29 de junho.
Casa das Rosas (Av. Paulista, n° 37)

30 de junho e 1º de julho.
Espaço dos Satyros I (Pça. Roosevelt, nº 214)

Rio de Janeiro:4 e 5 de agosto de 2007
(programação em breve)

Realização
Projeto Identidade

Apoio
O Casulo, Casa das Rosas, Os Satyros & Sebo do Bac

PROGRAMAÇÃO
sujeita a modificações

Sexta-feira, 29 de junho
Aberto para Balanço: Leitura de Poesia Contemporânea

Casa das Rosas (Av. Paulista, nº 37)
Cada poeta lerá poemas de sua autoria e homenageará outros poetas.

19h: Apresentação: Frederico Barbosa
Abertura: Eduardo Lacerda e Thiago Ponce (ambos do Projeto Identidade)

Alfredo Fressia (Contador Borges e Fábio Aristimunho Vargas)
Antônio Vicente Pietroforte (Del Candeias e Delmo Montenegro)
Lilian Aquino (Andréa Catropa e Heitor Ferraz)
Cláudio Daniel (Eduardo Jorge e Adriana Zapparoli)
Maiara Gouveia (Cláudia Roquette-Pinto e Rodrigo Petrônio)
Fabiano Calixto (Benjamin Prado)
Horácio Costa (César Vallejo e Xavier Villaurrutia)
Paulo Ferraz (Donizete Galvão e Fábio Weintraub)
21h - Intervalo

Cláudio Willer (lê amigos)
Mavot, Cooperifa (Eduardo Lacerda e Sérgio Vaz)
Bruna Beber (Ana Guadalupe e Alice Sant'Anna)
Pedro Tostes (Maloqueiristas: Berimba de Jesus e Caco Pontes )
Dirceu Villa (Ana Rüsche e Ricardo Domeneck)
Ronald Polito (Carlos de Oliveira e Júlio Castañon Guimarães)
Ruy Proença (Antônio Moura, Eucanaã Ferraz e Rubens Rodrigues Torres Filho)
Sérgio Mello (Augusto Silva e Luana Vignon)

Sábado, dia 30 de junho
Espaço dos Satyros I, Pça. Roosevelt, nº 214

[1] 10h às 11:30h - Abre-alas: Contaminações
Mediação: Andréa Catropa, poeta
- Antonio Vicente Pietroforte, escritor e Prof. Dr. Depto. Lingüística, FFLCH-USP
- Glauco Mattoso, poeta
- Anselmo Luis, o Bactéria
- Marcelino Freire, escritor

[2] 13h às 14:30h - Turma do Fundão: A Literatura na Sala de Aula
Mediação: Ivan Antunes, poeta
- Maria Elisa Cevasco, Profa. Dr. Depto. Letras Modernas, FFLCH-USP
- Rodrigo Ciríaco, escritor e educador
- Eduardo Araújo Teixeira, professor de literatura e meios audiovisuais
- Adilson Miguel, editor de literatura juvenil
- Eduardo Lacerda, editor de O Casulo - Jornal de Poesia Contemporânea

[3] 14:30h às 17h - E quem vive disso?
Mediação: Ana Paula Ferraz, jornalista e escritora
- Marcelo Siqueira Ridenti, Prof. Titular de Ciência Política, UNICAMP
- Santiago Nazarian, escritor
- Maria Luíza Mendes Furia, poeta
- Andrea Del Fuego, escritora- Juliano Pessanha, escritor

Domingo, dia 1º de julho
Espaço dos Satyros I, Pça. Roosevelt, nº 214

[4] 12h às 13:30h - O Além Livro
Mediação: Del Candeias, poeta
- Alberto Guzik, crítico, escritor e dramaturgo
- Lourenço Mutarelli, escritor e cartunista
- Mario Bortolotto, escritor e dramaturgo
- Eduardo Rodrigues, escritor e roterista de quadrinhos

[5] 14:30h às 16h - Influenza: Soy loco por ti America
Mediação: Fabio Aristimunho Vargas
- Vanderley Mendonça, editora Amauta
- Horacio Costa, poeta e Prof. Dr. Depto. Letras Clássicas
- Maria Alzira Brum, tradutora e escritora
- Alfredo Fressia, poeta e tradutor
- Joca Terron, escritor
16h - Encerramento

Leitura de Marcelo Mirisola
Divulgação do vencedor do Concurso Sigla FLAP! 2007

Inscrições: Para participar da FLAP! não é preciso realizar inscrições prévias, respeitaremos a ordem de chegada do público.
Certificados: quem precisar de certificados deverá preencher ficha de cadastro na abertura dos debates (sábado, 10h). Os certificados serão entregues no encerramento do evento (domingo, 16h). Dúvidas? Escreva para flap@projetoidentidade.org.

CONCURSO DA SIGLA FLAP!: O que significa "F.L.A.P.?". Deixe sua sugestão com os organizadores durante o evento! No domingo, a melhor sigla será premiada!

terça-feira, 12 de junho de 2007

Dica da noite


capa: aquarela de Derek Walcott


A edição dos Collected Poems (1948-1984) de Derek Walcott. Quando Lorca disse que a poesia tinha que ter duende, poderia muito bem estar pensando numa coisa dessas, por exemplo.

Se tiver que escolher uma parte, minha sugestão é a de que vá direto aos poemas extraordinários de The Fortunate Traveller, de 1981. Walcott é realmente um daqueles raros casos em que o Nobel acerta.

É um livro para andar junto com você, e um bom modo de começar a ler o autor de The Arkansas Testament e Omeros. Um item necessário.

Mais um Banquete

Caríssimos, mais uma edição do Banquete, e a leitura desta vez será na Biblioteca Alceu Amoroso Lima. Todos convidados, entrada gratuita & bons poetas (naturalmente).

Leitura de poesia contemporânea

DIRCEU VILLA
DONIZETE GALVÃO
FABIANA FALEIROS
FABIANO CALIXTO
FLÁVIA ROCHA
HELIO NERI
LILIAN AQUINO
PAULO FERRAZ
RODRIGO PETRONIO

14 de junho de 2007
19h00
BIBLIOTECA ALCEU AMOROSO LIMA
RUA HENRIQUE SCHAUMANN, 777
PINHEIROS – SÃO PAULO
TEL: 3082-5023

domingo, 10 de junho de 2007

O Discurso de Pitágoras


Ceres, Museu de Corinto, Atenas

Traduzi um trecho do livro XV das Metamorfoses, de Ovídio. Faz parte daquele loooongo & insensato projeto pessoal que inventei, o de traduzir o poema inteiro para o português, em verso, e que publicarei completo quando tiver uns 75 anos.

Na Officina Perniciosa, da revista virtual Germina Literatura (leitora & leitor curiosos, dêem uma espiada no link à direita em "Let us go and make our visit" e consultem o arquivo da Officina) se encontram "Baco e os Piratas Tirrenos", "A Morte de Actaeon" e o "Narciso". Junta-se a eles agora o "Discurso de Pitágoras", que eu dedico ao Johannes Pandit:

(Ovídio, Metamorphoseon Libri, XV, vv. 75-95)

“Poupai-vos, mortais, de poluir com alimento nefando
os corpos que tendes: há frutas, pomas que o peso
inclina em seus ramos, túmidas uvas nas vinhas,
há ervas suaves, que ficam ainda melhores
levadas ao fogo; vos falta sequer o leite ou o mel,
perfumado da flor do tomilho:
pródiga, a terra fornece riquezas, delícias
e prepara banquetes sem sangue nem vítimas.
As feras saciam a fome com carne; nem todas, também:
é fato que bois e cavalos só vivem de grama;
mas àqueles de engenho bem bruto e selvagem,
tigres armênios, leões iracundos,
lobos e ursos também, agrada alimento sangrento.
Ah, crime tremendo esconder as tripas nas tripas,
e com corpo ingerido engordar outro ávido corpo,
e que esse animal mate um outro animal pra viver.
Acaso da opulência que a opima mãe Terra te oferta,
nada te agrada, senão mastigar com a crueldade dos dentes —
em que recordas Cyclope de modos horrendos—,
ou, sem predar outro, não vais aplacar
o mal-educado apetite em teu ventre voraz?”

quarta-feira, 6 de junho de 2007

As canções perfeitas de Cat Power


Chan Marshall (a.k.a. Cat Power) em foto de Steven Gullick

Cat Power vicia. Estou muito evidentemente viciado, aliás, e isso já dura uns bons anos. Desde que ouvi Moonpix e What Would the Community Think, pelo menos.

Ela compõe coisas impecáveis de extrema simplicidade, interpreta outras que você achava que eram definitivas ("Wild is the Wind", ou "Satisfaction") substituindo-as no seu prazer auditivo.

Sua voz encantadora entra numa canção com a mesma familiaridade com que a maior parte das pessoas abre a porta de casa.

Não tenho como falar da música dela de um jeito coerente, bem proporcionado, etc. Eu até gostaria.

The Greatest é um disco tão perfeito como coleção de canções perfeitas que é possível ouvir por dias, semanas, meses a fio sem perder aquela preciosa sensação de estar ouvindo algo belíssimo pela primeira vez.

Daí que canções como "The Greatest" ou "The Moon" têm algum feitiço nelas. Eu sei que têm.