terça-feira, 13 de novembro de 2018

STAN LEE (1922-2018)

Trigésimo mês,
Ano III do Golpe de Estado, 
Ano I da Era Fascista



LULA LIVRE



Stan Lee, o grande visionário das HQs,
desenhado em um poster com as imagens
combinadas de seus personagens inesquecíveis.


Uma das fotos mais antigas minhas, em álbum de família, mostra um pivete que nem ainda sabia ler com um gibi do Homem-Aranha nas mãos, entretido como se entendesse tudo (talvez entendesse: Will Eisner sempre defendeu que a "arte sequencial" tinha a missão, como também o cinema, de dar sentido com imagens - a despeito das palavras - editadas pelo olho do artista).

Foram as HQs que me introduziram à leitura prazerosa, mas foram também o meu primeiro contato com arte, quando comecei, não como escritor, mas como desenhista, a rabiscar coisas.

Ao voltar do trabalho, sabendo que eu & meu irmão éramos viciados em HQs, meu pai muitas vezes trazia um gibi consigo, aquele velho esquema do chamado "formatinho" (13 x 21 cm) publicado pela Editora Abril, & eram sobretudo os gibis da Marvel & sobretudo o Homem -Aranha. Me tornei um leitor voraz de HQs & passei a colencioná-las, de todo tipo.

O Aranha é um herói meio torto, porque Peter Parker, sua identidade civil, é um rapaz cheio de problemas: familiares, escolares, amorosos & de grana. E, por vezes, problema de identidade, já que ser um super-herói também não é nada fácil.

E o segredo de Stan Lee estava precisamente aí, mais claramente demonstrável no Aranha: os dilemas do herói eram de fácil identificação.

Anos mais tarde eu já o desenhava: sempre gostei mais do Homem-Aranha na versão do excelente quadrinista John Romita, sobretudo se a arte-final fosse a de outro artista genial das HQs, Gil Kane, que junto com Jim Steranko & Neal Adams estava, no fim dos anos 1960 & começo dos 1970, reformulando o estilo dinâmico das HQs de heróis tal como fora inventado pelo insuperável Jack Kirby.

Abaixo, vocês têm um dos meus esboços antigos para o Aranha, quando eu ainda achava que seria um artista de HQs:


Nunca me esqueço do que lembrou um querido
amigo meu, Thiago Lins (grande conhecedor de HQs, 
entre outras coisas), em prefácio à sua tradução do Tarzande 
Edgar Rice Burroughs, sobre a influência daqueles cipós da selva 
nestes cipós de teia na cidade de Nova York.

Por que tudo isso?

Porque ontem morreu o maior nome das HQs de super-heróis, Stan Lee. 

Stanley Lieber teve uma história incomparável como inventor de heróis, redator, editor & depois a cara & o humor da Marvel Comics, que acabou por bater a Distinta Concorrência & se tornar a maior empresa de gibis de super-heróis.

Stan Lee criou o Quarteto Fantástico (1961), criou o Homem-Aranha (1962), o Homem de Ferro (1963), o Thor (1962), os X-Men (1963), o Hulk (1962), o Doutor Estranho (1963), o Demolidor (1964), o Pantera Negra (1966), o Surfista Prateado (1966) & um grande etc. 

Escritor, foi acompanhado, em todas as ocasiões, de outros gigantes (artistas como Steve Ditko), mas sobretudo de seu parceiro favorito (& depois desafeto, & depois meio que amigos de novo), Jack Kirby.

Kirby tem o apelido "The King": foi o artista mais influente, & basicamente o primeiro, a desenvolver a estranha estética desses personagens com um status quase mítico, os super-heróis. 

Inventou o Capitão América (1941) na mesma época em que surgiram o Superman (1938) de Siegel & Shuster, o Batman (1939) de Bob Kane & Bill Finger, & o Spirit (1940) de Will Eisner.

Seu desenho, facilmente reconhecível, era estilizadíssimo em escorços impossíveis de anatomia, em arrojo absoluto de perspectiva, com as figuras quase saltando da página.


Not a bad job, Jack, not at all

Ele deu forma à maior parte das criaturas que saíam de sua mente & da de Stan Lee. 

E Lee possuía uma sensibilidade de escrita rara: melodramático, palavroso, mas consciente, como nenhum outro, das fraquezas humanas mas também de um heroísmo comovente, era sempre exato no humor algo ridículo que, como na vida, utilizamos para dar válvula de escape às agruras.

Seus heróis eram, então, empaticamente falíveis; mas eram mais: eram divertidos, patéticos, bravamente heróicos, coloridos, ultrajantes, fantasiosos com um pouco de sensibilidade de novela, aventurosos com as forças então ainda pouco comuns de filosofia & mesmo um tanto de ficção científica.


O Surfista Prateado, herói extraterrestre, filosófico
& humanitário, com poderes cósmicos & pele resistente
aos rigores do espaço sideral, no traço de John Buscema.

Lee tinha um fraco por um de seus personagens mais trágicos, o Surfista Prateado, & punha nele, herói exilado de seu planeta de origem, Zenn-la, uma filosofia algo superficial, mas suficientemente existencial para cativar leitores de um meio ainda pouco sofisticado em seu regime industrial, & que Lee assim transformava, tornando possível, no futuro que já é o passado, coisas como o Dr. Manhattan em Watchmen (1986), obra-prima de Alan Moore & Dave Gibbons.


Dr. Manhattan, auto-exilado em Marte, cansado
das confusões & dos mesquinhos dramas humanos.


O Surfista também é um dos meus prediletos. 

Stan Lee, já um dos maiores criadores das HQs, & já no mundo das Graphic Novels dos anos 1980 - os chamados "romances gráficos", já concebidos por Will Eisner nos anos 1940-, teve a oportunidade de trabalhar também com um dos maiores nomes das artes gráficas, o artista francês Moebius (a.k.a. Jean Giraud), num livro em que revisita seu personagem querido, Parábola (recentemente reeditado no Brasil).

Palavras & roteiro de Stan Lee, 
arte de Moebius.

É difícil imaginar o que seria da hoje monstruosa indústria dos super-heróis sem Stan Lee: sua capacidade de imaginar roteiros espantosos, sua persona de tiozão bonachão, contador de piadas & causos, seus bordões & suas participações especiais nos agora famosíssimos filmes baseados em seus personagens o tornaram uma espécie de ponto focal do gênero, um Homero dos gibis.


Recordação do New York Times 
para o grande mestre das HQs.

É por isso que sua morte, aos 95 anos, deixa esse novo gênero em definitivo sem suas origens: Kirby morrera em 1994. 

Muitos de nós lhe devemos muitas horas felizes, estimuladoras da imaginação, simplesmente divertidas ou mesmo iniciadoras de carreiras. Suas histórias são parte significativa da cultura ocidental, mesmo com a crítica por vezes muy dura a essa invenção já existindo mesmo dentro das HQs, como é o caso da excelente Marshall Law: Crime & Punishment, de Pat Mills (escrita) & Kevin O'Neill (arte).

Os super-heróis, paródias maníacas das criações da Marvel,
encontram morte funesta fugindo do manicômio.


Não é pouco para um camarada dickensiano, sempre sorridente & com uma imaginação extraordinária.

Descanse em paz, bom & velho Stan. Excelsior!

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

INSTANT KARMA'S GONNA GET YOU

Vigésimo-nono mês,
Ano III do Golpe de Estado: ditadura de MiSheLL Temer

LULA LIVRE


A civilização no Brasil será decidida, nas urnas, neste domingo. 

A opção está entre eleger, ou permitir eleger, nada menos do que um Hitler versão brasileira, ou eleger um homem inteligente, decente, gentil. Acima de tudo, & de divisões partidário-ideológicas, um democrata.

Não tem como ficar em cima do muro.

Quem votar no fascista, ou se "omitir" de votar, terá sangue em suas mãos.

Se fosse mais complicado do que isso, oh boy, eu diria: mas não é. Nem é uma ameaça: quem sou eu para ameaçar quem quer que seja? Ameaça é com o outro time,  onde aliás sobram psicopatas.

Estou apenas dando uma mãozinha para que nada pese na vossa consciência mais tarde. Cidadania é um direito inalienável & precioso, mas é também um dever.

Então deixo todo mundo com um lembrete do velho & bom John Lennon, ouçam bem: "Karma Instantâneo vai pegar vocês". Porque, não sei se vocês sabem, mas pega mesmo, & pega feio.

It's up to you, yeah you.


Instant Karma's gonna get you
Gonna knock you right on the head
You better get yourself together
Pretty soon you're gonna be dead
What in the world you thinking of
Laughing in the face of love
What on earth you tryin' to do
It's up to you, yeah you

Instant Karma's gonna get you
Gonna look you right in the face
Better get yourself together darlin'
Join the human race
How in the world you gonna see
Laughin' at fools like me
Who in the hell d'you think you are
A super star
Well, right you are

Well we all shine on
Like the moon and the stars and the sun
Well we all shine on
Ev'ryone come on

Instant Karma's gonna get you
Gonna knock you off your feet
Better recognize your brothers
Ev'ryone you meet
Why in the world are we here
Surely not to live in pain and fear
Why on earth are you there
When you're ev'rywhere
Come and get your share

Well we all shine on
Like the moon and the stars and the sun
Yeah we all shine on
Come on and on and on on on
Yeah yeah, alright, uh huh, ah

Well we all shine on
Like the moon and the stars and the sun
Yeah we all shine on
On and on and on on and on

Well we all shine on
Like the moon and the stars and the sun
Well we all shine on
Like the moon and the stars and the sun
Well we all shine on
Like the moon and the stars and the sun
Yeah we all shine on
Like the moon and the stars and the sun


segunda-feira, 22 de outubro de 2018

BOLSONAZISTAS E A BANDEIRA VERMELHA DE SANGUE

Vigésimo-nono mês,
Ano III do Golpe de Estado: ditadura de MiSheLL Temer



LULA LIVRE


"Sieg Heil!", gritam as hordas de bolsonazistas


O TIPO BOLSONAZISTA, 
O VELHO GOLPISTA DE 2016, 
DE VERDE-E-AMARELO,
SELEÇÃO CANALHINHO

Ontem, no metrô, as gangues fascistas, vestidas com seu característico verde-e-amarelo do novo integralismo golpista, berravam com ameaça, "Morre, vermelho!" e "A nossa bandeira jamais será vermelha!"

Gente decente saía do metrô dizendo: "É impossível entrar aí". Alguns, prestes a vomitar.

Os bolsonazistas estão errados em seus gritos, pelo seguinte:

1) se era para a bandeira ficar vermelha em um eventual governo do Partido dos Trabalhadores, significando a ameaça "comunista" (seja lá o que isso signifique na cabeça de pudim dos bolsonazistas), essa bandeira já estaria vermelhíssima, que o PT governou democraticamente o país por 14 anos, & o hoje prisioneiro político da nova ditadura, Luiz Inácio Lula da Silva, deixou seus oito anos no governo, em dois mandatos eleitos, com 85% de aprovação popular, coisa que nenhum presidente no planeta já teve;


seria o deus meio nervoso
do Velho Testamento?

2) se o medo era o de que valores anticristãos entrassem em vigor por motivo de uma eleição eventual de Haddad, ou porque esses "vermelhos" da URSAL (seja lá o que isso signifique no cérebro de amendoim dos bolsonazistas) querem dominar o mundo, me parece que berrar pela morte de alguém (coisa que nunca ouvi em manifestações daqueles impiedosos & malvados "vermelhos") seja como quando multidões mandaram matar aquele simpático & pobre nazareno no lugar de Barrabás. Valores bem anticristãos, nota o vosso Demônio;


O Brasil faz silêncio - não de respeito, de conivência - 
sobre os atos criminosos dos hidrófobos bolsonazistas 
& de seu Führer,
o silêncio obsequioso das Inquisições


3) a bandeira JÁ está TODA vermelha, mesmo antes de uma eventual ditadura bolsonazista: vermelha do sangue das vítimas das palavras do chefe bolsonazista desde já, a que obedecem os bolsonazistas filhotes dele por todo o Brasil: Mestre Moa do Katendê foi morto na Bahia, a facadas, por ter dito que votara em Haddad; a transexual no Largo do Arouche, também morta por bolsonazistas; uma moça que teve uma suástica gravada a estilete no corpo, por um bando de bolsonazistas; uma servidora pública com adesivos de Ciro Gomes & de #elenão foi agredida por um bando de bolsonazistas; mesma coisa no Paraná, em Recife, etc, etc etc.

Se não for vermelha do sangue das vítimas dos bolsonazistas,
talvez este singelo modelito 
esteja mais em sintonia com os novos tempos.


IT'S THE END OF THE WORLD 
AS WE KNOW IT

Yep.

E a letra do R.E.M. continua "and I feel fine".

Já eu, não.

Detesto ser a pessoa que diz "eu avisei", mas eu de fato avisei com uma bruuuuta antecedência para onde íamos. 

Quem não acredita, convido a dar uma espiada bem aqui



Latuff, como sói acontecer, mais certo do que nunca:
eis o Judiciário


Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador, foi absolvido pelo, ah-ham, Tribunal de "Justiça" de São Paulo em segunda instância. 

E daí tem gente que acha que a candidatura do fascista pode ser impugnada por crime eleitoral pela manipulação de notícias falsas no WhatsApp, constituindo abuso de poder.


Ouvi dizer que seria "covarde": não é, é conivente.
Lembrem-se da conversinha do Romero Juquinha: 
"Com o STF, com tudo".

Lula, com prova de sua inocência, sem crime & um homem que fez mais pelo Brasil do que todos os seus opositores juntos, vezes 10, foi considerado suuficientemente culpado para ser metido incomunicável numa solitária, a perder de vista & contra determinação dos Direitos Humanos da ONU. Foi impedido de concorrer à presidência.

Um torturador, celebrado por ser torturador, & um candidato que defendeu publicamente a tortura, esses ficam livres, o Judiciário brasileiro lhes dá "ficha limpa".

Não há crimes, por hediondos que sejam, que vão condenar essas pessoas. O Brasil não tem lei, pessoas queridas.

Lembrem: vivemos numa ditadura desde 2016.



Tradições, ah-ham, "jornalísticas" 
no Brasil continuam firmes


SANGUE NAS MÃOS
DOS ELEITORES BOLSONAZISTAS
& DOS OMISSOS



"Não estarão jamais limpas estas mãos?"
se pergunta Lady Macbeth,
como poderão se perguntar adiante
os brasileiros bolsonazistas


Que mãos, bem aqui! Ha! Arrancam os meus olhos.
Lavaria-me todo o oceano do grande Netuno
O sangue nas mãos? Não, esta mão
Encarnaria mares multitudinários,
Rubro cobre o verde.

William Shakespeare, 
Macbeth, Ato 2, cena 2 (versos 60-64)

Houve quem me pedisse um texto, quem me sugerisse que essa era a hora dramática de fazer algo que compelisse mentes & corações, & eu mesmo cheguei a pensar com essa grandiloqüência fora de hora, fora de lugar &, sou franco, para esta pessoa errada, ainda por cima, que eu sempre achei que a humanidade, como coisa coletiva, gosta mesmo é de horror.

Acho que, assim como os alemães logo antes da Segunda Guerra, o nazismo é o que boa parte dos brasileiros quer agora, & que outra boa parte de brasileiros não liga que queiram.

Desejo boa sorte a todos aqueles que não se importam de ter sangue nas mãos, & isso inclui mídia, Judiciário & parte do povo. Estão pouco se lixando se a História provou continuamente que esse é apenas o caminho do verdadeiro sofrimento, do horror, dos anos & vidas perdidos, da destruição.

Honestamente, o ponto final para mim já tinha vindo em definitivo com as balas endereçadas à cabeça de Marielle Franco. 

Agora é conter o estrago pior, é evitar que o Brasil escolha sua experiência hitleriana, porque isso não se apagaria jamais.

POEMAS 
PELA DEMOCRACIA


imagem de Andrés Sandoval

Dia 25 de outubro de 2018, na Casa Plana (Rua Fradique Coutinho, 1139), acontece uma grande leitura de poesia em favor da democracia, poucos dias antes da eleição em segundo turno.

Abaixo, o texto de divulgação & o link do facebook da leitura muito oportuna, a que todos estão desde já convidados. Entrada franca.


"Elogio à tortura, ameaça aos direitos sociais e as minorias, incremento do racismo, da homofobia, da violência, escola sem partido e sem pensamento, congelamento dos investimentos em saúde e educação, intolerância religiosa, destruição ambiental. Como seguir considerando democráticos os tempos em que vivemos? As instituições seguem funcionando, as eleições continuam diretas, mas a mentira se alastra, nas redes e nas ruas, e o medo, a desesperança...

Às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais, a poesia vem dar as caras, chamar para a luta, conclamar à liberdade. Ao longo de duas horas, mais de três dezenas de poetas, professores, leitores de poesia vêm a público defender os valores democráticos.

Participantes (lista provisória): Ademir Assunção, Adrienne Myrtes, Airton Paschoa, Alexandre Barbosa de Souza, Alice Sant'anna, Andrea Catropa, Antônio Vicente Seraphim Pietroforte, Arthur Lungov, Bruno Brum, Cadu Ortolan, Carlos Machado, Celso Alencar, Cide Piquet, Chris Ritchie, Cláudia Abeling, Danilo Gusmão, Diana Junkes, Dirceu Villa, Djami Sezostre, Fabiano Fernandes Garcez, Fabio Cesar Alves, Fabio Weintraub, Fabiano Calixto, Fabrício Corsaletti, Francesca Cricelli, Frederico Barbosa, Gabriel Rath Kolyniak, Geruza Zelnys, Ivan Hegen, João Bandeira, Josep Domènech Ponsatí, Júlia Bac, Leandro Esteves, Leusa Araújo, Lilian Aquino, Luís Perdiz, Maria Luíza Furia, Maria Luiza Corrêa, Micheliny Verunschk, Milena Migrans, Mônica Rodrigues da Costa, Natália Agra, Noemi Jaffé, Pádua Fernandes, Patrícia Chmi, Paulo Ferraz, Pedro Tostes, Pepê Mata Machado, Priscila Figueiredo, Rafael Tahan, Ricardo Domeneck, Ricardo Escudeiro, Roberta Ferraz, Roberta Villa, Roger Willian, Ruy Proença, Simone Rossinetti Rufinoni, Sofia Mariutti, Tarso de Melo, Wilson Alves Bezerra".

terça-feira, 2 de outubro de 2018

VENENO

Vigésimo-nono mês,
Ano III do Golpe: ditadura de MiSheLL Temer

LULA LIVRE




Há um lento resquício
de flores & folhas aromáticas no meu vinho.

Estou cansado, e não fiz nada.

Homens trabalham duro lá fora
numa reforma: suas marretas e serras
operam sem parar em telhas, chapas de metal, paredes de tijolo.

Ontem eram os gritos de gente, sobretudo jovem,
tentando impedir o avanço do fascismo, a grande sombra.

A história está contra essa gente, contra seu entusiasmo
pelo que é certo, pelas virtudes da civilidade, etc.

O mundo sonhado do lado solar dos nossos esforços
é como as flores & folhas no meu vinho, aliás tardio:

um lento resquício.

Minha casa tem ainda silêncio de tarde preguiçosa.
Em alguns dias, não mais: os soldados estão parados,
à porta, aguardando as ordens.

Sócrates, velho Sócrates, você teria acreditado
na mentira de Atenas? Por que aguardou o momento final,
por que conversou com os algozes, os de cera nos ouvidos?

Talvez, como eu, não tivesse escolha.

Resquícios. Serão varridos, pela manhã, com o lixo da reforma.

sábado, 18 de agosto de 2018

I AM NOT WHAT I AM

Vigésimo-sétimo mês,
Ano III do Golpe: ditadura de MiSheLL Temer



LULA LIVRE



Direitos Humanos da ONU manda liberar candidatura de Lula

A ONU solta documento oficial, do Comitê de Direitos Humanos da organização diplomática internacional, dizendo que Lula DEVE ter seus direitos políticos respeitados, DEVE poder ser candidato, DEVE ter cobertura de mídia condigna & DEVE poder receber passoas de seu partido para preparação de campanha.

A ONU será respeitada, uma vez que o Brasil é signatário dessas alianças internacionais para a manutenção dos direitos humanos? 

Não, a ONU não será respeitada.

Por quê, Dirceu?

Simples: a encomenda do Golpe SEMPRE foi impedir Lula de retornar ao poder. A encomenda vem de poderes muito maiores, & exteriores ao Brasil, & se instrumentaliza, no Brasil, na mídia golpista (Rede Golpe, os grandes jornais & a revista hiperhipócrita Nãoveja, sobretudo), em boa parte do judiciário que se tornou uma casta de milionários acima da lei, & nos grandes negócios (bancos, investidores, "indústria", ruralistas). 

Mas é interessante ver Barrão com o dilema de servir a dois amos, como o Arlequim de Goldoni. No caso, o dilema desse mínimo juiz máximo sem consciência histórica está em acatar uma decisão superior à sua jurisdição, uma decisão num tratado de que o Brasil é signatário para os direitos humanos, ou continuar seguindo as decisões que lhe são obrigadas por um consórcio de interesses estrangeiros, Rede Golpe & bancos & empresários muy ricos, isto é, a gente da sua casta.

O dilema está em que: 

1) Barrão decide impugnar Lula, & se torna uma das figuras mais mesquinhas & execráveis no Direito Internacional por descumprir o que o Comitè de Direitos Humanos da ONU determinou, além de lançar o Brasil numa situação de nação pária; 

2) Barrão decide não impugná-lo, pra ficar bem na fita da História & dos tratados internacionais, & se torna persona non grata (como Teori Zavascki se tornou logo antes de seu, ah-ham, acidente) com aquele grupo poderosíssimo acima descrito.

Me parece claro que Barrão não tem força pessoal suficiente para sacrificar a própria pele, & então sacrificará sua reputação.

Mas notem que o dilema em si é maravilhoso. 

Shakespeare pôs na boca de Iago, aquele personagem fascinante & assustador, a frase que o Golpe poderia repetir como um mantra: I am not what I am.

*

Nurse Ratched



A Procuradoria Geral da União vive a situação do manicômio em Um estranho no ninho (1975), de Milos Forman, porque, como vocês sabem, quem está mandando lá é a Enfermeira Ratched. 

Honestamente, talvez a Enfermeira Ratched brasileira devesse concorrer à presidência: faz dois anos que o país é um manicômio. 

É claro que preferem,  a essa altura do campeonato, um psicopata de extrema-direita no poder, um mini-Hitler (mini porque não terá o poder de devastação de muitos outros países, só o deste & de um ou dois outros sul-americanos, que sofrerão golpes de Estado com a sua colaboração).

E as urnas, eu acho,  dirão amém ao Messias.

*

Killing Joke

Não há nada mais velho no Brasil do que o Partido Novo: repleto de super-almofadinhas & de ultra-conservas, o nome do partido deve ter surgido numa macabra piada interna.

*

De Gaulle

Diziam que De Gaulle falou que o Brasil não é um país sério. Depois disseram que não falou: se não falou, deveria ter falado, porque é verdade.

*

Nazibrazil

Bolsonóia nas entrevistas & debates de que participa mostra que sua ignorância de todas as coisas (TODAS as coisas) é tão avassaladora & abissal quanto sua disposição para o extermínio, versão fascismo 2.0.

E se tem uma coisa de que o povo gosta mais do que tudo, é de um bom extermínio. 

*

Indolente & malandro: Macunaíma?

O General Imourão também gosta de extermínio: aparentemente já tem candidatos entre índios & negros, está só em dúvida de por qual começar, os indolentes ou os malandros? Difícil, General, difícil.

*

Amélia, que era mulher de verdade

Amélia, que era mulher de verdade (& de chicote no lombo), além de vice de uma mentira velha de São Paulo, também parece gostar de extermínio: mas seus candidatos ao extermínio são os movimentos sociais &, quem sabe, os perigosíssimos terroristas da Al Jazeera, que foram secretamente convidados pelo Partido dos Trabalhadores a invadir o país.

domingo, 29 de julho de 2018

NOSSO VINHO, HOJE TINTO DE SANGUE

Vigésimo-sétimo mês,
Ano III do Golpe de Estado: ditadura de MiSheLL Temer


LULA LIVRE

Festival Lula Livre, dia 28, nos Arcos da Lapa,
Rio de Janeiro

Gil & Chico tornam dispensável qualquer palavra minha nessa ocasião. Repito com eles, "Lula livre", & ajunto apenas que para mim - que ouvi essa mesma música com a mesma urgência de hoje quando era moleque - é um pouco chocante ver-nos devolvidos ao mais básico da indigência político-econômico-social pelo Golpe de Estado político, midiático & jurídico (a um passo de militar, como o Rio já sabe dolorosamente), que se aprofunda, ditatorial, a cada dia. 

Muita gente vai se arrepender do que fez & defendeu nesses nossos novos dias escuros. E muita gente vai contar a história se reinventando do lado certo, defendendo Lula & a democracia. Mas quem viveu isto saberá. E esse é um aprendizado sobre a natureza humana: defende o horror até que se torne, por uma monstruosidade irreversível, algo indefensável. 

Estamos chegando perto. Aqueles que investiram no golpe, no fascismo, os que vestiram o verdamarelo do novo Integralismo estão próximos de conseguir o que pediram. Daí o horror vai virar a mesa. Daí já vai ser tarde demais.

Deixo vocês, leitores & leitoras, com mais um vídeo, o de Ligiana Costa, cantora, compositora, performer & pesquisadora, recebendo o prêmio Flaiano, em Pescara, na Itália, & dedicando-o a Lula. É um gesto belo, politicamente forte, & corajoso.


"Nostro presidente"


segunda-feira, 28 de maio de 2018

"FICOU MUITO CLARO PARA A SOCIEDADE BRASILEIRA QUAL É A ALIANÇA PELO IMPEACHMENT: REÚNE CORRUPTOS, TORTURADORES E TRAIDORES DA PÁTRIA"

Vigésimo-quinto mês,
Ano III do Golpe de Estado: ditadura de MiSheLL Temer


LULA LIVRE



Título: Jandira Feghali dixit, 2016, no Dia da Vergonha Nacional na Câmara dos Deputados.
***

Em uma coisa os debilóides dos golpistas estavam certos, & infelizmente tenho de admitir: o Brasil não é a Venezuela.

A Venezuela tem a gasolina mais barata do mundo, tem presidente eleito & não é capacho de outro país. 

Eles estavam certos, os golpistas.

***


Gente de bom-senso está feliz com essa greve dos caminhoneiros; gente sem bom-senso está feliz com essa greve dos caminhoneiros.

Um desses dois grupos está sendo ingênuo.

O grupo que está sendo ingênuo é o das pessoas de bom-senso.

Os caminhoneiros têm direitos, como todo mundo (ou deveriam ter; com Parente ninguém terá, anyway, com a exceção de riquíssimos investidores internacionais), & têm razão de reclamar esses mesmos direitos.

Mas há que se observar: 

1) A imprensa golpista está do lado deles;

2) A polícia & o exército estão do lado deles;

3) Figuras midiáticas acéfalas estão do lado deles;

Como diria Master William, "há algo de podre no reino da Dinamarca".

Não foram chamados de "vagabundos" nem de "vândalos" por impedir que o dia-a-dia do trabalho corresse normalmente (isso SEMPRE acontece quando estudantes, militantes de esquerda, ou movimentos de sem-terra páram alguma rua, avenida ou estradinha).

Pior, eles apenas cortaram o abastecimento de rigorosamente TUDO no país, que parou & virou os filmes de MAD MAX (que todo mundo sabia que era o destino do Brasil golpista em algum ponto).

A polícia não encheu essas pessoas de porrada.

A imprensa não sujou a imagem delas com ofensas. 

Au contraire, eles são "heróis".

Um dos pontos que podem ilustrar o perigo & a aberração da resposta do aparato midiático & militar é o seguinte: essa é uma categoria de direita. Não estou dizendo direita tipo FHC, estou dizendo direita que desce do Bolsonóia para ditadura militar.

Pedem "intervenção militar", uns tantos deles. 

As pessoas sensatas, sentindo que o liliputiano usurpador, aprendiz de ditador, talvez receba o que merece, um chute no traseiro para longe da cadeira usurpada (& de preferência para a cadeia), aderiram ao oba-oba da supergreve.

Erro.

O objetivo dessa supergreve, que tem a bênção dos militares & da mídia, é a "eleição" de outubro. 

E o resultado pode ser:

a) "Cancelada a eleição por extrema instabilidade institucional no país";

b) "Cancelada a eleição direta no país, por extrema instabilidade institucional; haverá eleição indireta para indicação de nome substitutivo & provisório, de dentro do colegiado";

c) "Cancelada a eleição de outubro a perder de vista, que agora quem ocupa o poder somos nós, os fardados, para pôr ordem nessa baderna";

d) "Vai ter eleição, porque a greve foi tão extrema que o brasileiro imbecil agora está determinado a eleger o maior escroto do planeta, um fascista descerebrado, defensor de torturador, um ratão que nunca fez absolutamente NADA pelo país que não fosse defender o ódio, a violência (incluindo violência sexual) & todo tipo de preconceito".

Esse é o desfecho desejado & planejado para a "greve" dos caminhoneiros. 

Mesmo a maior parte da categoria deles não sabe que esse é o objetivo. 

Estão sendo usados pelo complexo midiático-militar (& civil, de um bando de riquíssimos empresários, & de intervenção da inteligência estrangeira, que está dirigindo o espetáculo desde as preparações do Golpe de 2016).

O perigo nunca foi tão grande. Mas há mais que se comentar.


***




Há quem realmente ache que Lula sairá da prisão antes das eleições.

Não, ele não sairá.

Como disse acima, é até duvidoso que aconteçam eleições como as conhecíamos, porque parece que as pessoas ainda não têm a clareza de perceber o que digo há 3 anos: isto é uma ditadura.

E, supondo que haja eleições, depois delas só existe uma chance de Lula sair da prisão antes de estar morto: se ganhar um candidato, ou candidata, de esquerda, que lhe dê um indulto presidencial ou remonte revolucionariamente a "justiça", que ponho entre aspas porque também deveria ser óbvio que hoje não existe mais no país; se houvesse, todo o gabinete golpista, incluindo aquele ridículo nanico liliputiano, estaria preso por numerosos crimes, incluindo o de lesa-pátria.

E Lula estaria livre. 

SE houvesse justiça.

E não vai ganhar a eleição nenhum candidato de esquerda, & não vai ganhar porque o Golpe, ao tomar o poder, foi direto cortar os gastos com políticas sociais por 20 anos.

Repito meu corolário de 3 anos atrás: ninguém que vá ficar 2 anos no poder implementa uma política, aliás contrária à vontade pública, que se projeta 20 anos no futuro. Isso se faz quando se supõe ficar no mínimo esse tanto no poder.

A tendência é a de que Lula apodreça na prisão por um crime que não cometeu. 

Milhões vão morrer com ele, assassinados pela nova ditadura, seja pelo descaso proposital das novas políticas, seja por ação direta de um golpismo criminoso, com desdobramentos bem pavorosos ainda por nos surpreender.

Ministro do STF Teori Zavascki morto na queda do avião em Paraty; incêndio destruindo prédio ocupado por gente sem-teto no centro de São Paulo & matando meia centena de pessoas; execução de Marielle & de ainda outro vereador no Rio ocupado militarmente; tiros contra a caravana de Lula & contra o acampamento cívico contra sua prisão; a própria prisão de Lula, a maior aberração pseudojurídica posterior à ditadura civil-militar de 1964-1985.  

Esses são só uns poucos dos casos mais aberrantes, desde o Golpe de Estado, levados sem seriedade alguma, por quem quer que seja, dentro ou fora do aparato dito "jurídico" desta República dos Bananas.

Algum desses casos foi esclarecido? Culpados foram levados à, ah-ham, "justiça"? Versões oficiais foram decentemente questionadas? 

Nope. Perdão, há algumas exceções, natürlich. Uma delas, muito consistente, é a Mídia Ninja:




Estamos vivendo aquele terror ditatorial, já. E vai piorar. É matemática simples, & Lógica 101. É FUNDAMENTAL resistir.

É difícil, complica a vida? sim. Mas não pode ser de outra forma. 

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Reassisti ao filme Inside Job (Trabalho interno, 2010), documentário sobre a crise de 2008 das hipotecas, transformada em crise financeira mundial.

Quando assistia ao filme no ano da estréia, eu, assim como todos os que o resenharam (& mesmo quem o roteirizou & dirigiu), não percebemos uma coisa fundamental que ao reassistir ficou clara.

Nota-se a perplexidade de alguns congressistas durante os interrogatórios dos executivos de grandes bancos & agências de investimento, quando esses homens riquíssimos (& evidente & abertamente criminosos) dão desculpas esfarrapadas para os atos de crime financeiro cometidos.

Há perplexidade quanto ao fato de que muitos deles foram recompensados ao invés de punidos, & estranhamento de que o governo os salvasse quando insolventes (como o governo golpista daqui fez, por exemplo, com a dívida bilionária de um banco conhecido pelas propagandas televisivas de sua preocupação quentinha & familiar com você, povo brasileiro).

Na época parecia apenas que se tratava do velho esquema de que, se você é grande demais, ninguém vai deixar você cair, ou que os ricos se protegem, etc. 

Essas coisas são verdades, mas não ver além delas é uma cegueira de que todos fomos culpados.

Fomos culpados pela nossa ingenuidade, a ingenuidade de não ver nisso um plano

É como a então ministra francesa, Christine Lagarde, que lembra de uma conversa com Henry Paulson, então Secretário do Tesouro estadunidense, quando tentou avisá-lo de que todos percebiam o tsunami de crise econômica se montando, & a resposta desse também ex-banqueiro do Goldman Sachs foi que "tudo está sob controle", & deixou acontecer (& considere que Lagarde é de direita, & hoje encabeça nada mais, nada menos, que o FMI).

Pensou-se aqui & ali que ele dizia uma besteira, que estava sendo relaxado com uma ganância endêmica da qual fazia parte, ou que estaria lá só para permitir que seus semelhantes saqueassem uma riqueza pública.

Errado.

Todos estavam tranquilos porque de fato tudo estava sob controle: desejavam a crise.

Nenhum deles ficou sequer menos rico ou está preso. Alguns voltaram a trabalhar com o governo, indicados pelo executivo. Nenhum governante daquele período foi julgado por crime de guerra, crime contra a humanidade. Pegaram alguns peixes pequenos para oferecer bodes expiatórios à turba & ficou por isso mesmo. 

Foi essa a crise que repercutiu nos países ditos "em crescimento". 

Chegou aqui apenas em 2013. Foi usada, aqui como em outros países, como um modo de desequilibrar o estado nacional, os governos de centro-esquerda & se criar uma agitação antidemocrática, que colhemos hoje, em 2018 & já antes em 2016 & 2017, como fascismo popular, maduro & pronto para o consumo sanguinário.

A crise não iria derrubar os EUA ou algum país europeu igualmente forte. Não derrubaria o Japão. Não derrubaria nenhuma moeda fundamental ao equilíbrio financeiro mundial. 

Mas tinha o necessário não apenas para encomendar extrema concentração de renda nesses lugares, mas para também enviar ondas de choque às economias crescentes, que sentiriam maior impacto.

Durante o fim do primeiro governo & o começo do segundo de Dilma Rousseff o impacto se fez sentir. 

Paus mandados da cúpula financista do mundo - as duas casas do congresso brasileiro - fecharam as portas a qualquer medida que aliviasse o impacto da crise, para que se pudesse usar o argumento para uma eventual derrubada da presidente & implementação de um governo de saqueadores a serviço do capital transnacional.

Derrubada que custou mais do que isso: 

1) custou o emprego de uma peça descartável, o Edu Cu; 

2) custou um empenho jamais visto da Rede Golpe (& as peças acessórias na mídia impressa & online) em fazer o que sabe fazer melhor: a lavagem mental para o "efeito manada", descrito por um de seus dirigentes; 

3) custou agitação estrangeira semelhante à da "Primavera árabe" para desestabilizar a população, instaurar um ambiente divisivo que acabaria por autodestruir o país; 

4) custou a Lava Jato, uma operação falsa, facciosa, fingidamente jurídica, para enquadrar lideranças & movimentos populares sob a desculpa esfarrapada de agir contra a "corrupção" política, desculpando ou liberando os maiores corruptos & corruptores para entroná-los em posições de governo ou legislação, sorrindo com eles em fotos famosas, indo prestar contas aos chefes no exterior, como fez o juizinho Mordor.

Edward Snowden demonstrou como a espionagem a Dilma Rousseff e à Petrobrás procurava encontrar modos de minar ambas para poder depois tomar conta do petróleo que era (não é mais) do Brasil.

Wikileaks mostrou como o liliputiano golpistinha agia de escondido, secreto, mandando informações para uma embaixada estrangeira sobre aspectos internos  & delicados de política nacional que pudessem ser usados por instrumentos de inteligência para desmantelar o país.

E foram. 

Desde os ataques monstruosos de 11 de setembro aos EUA o plano vem sendo descortinado. Inventou-se o inimigo inexistente do extremismo terrorista, acionado sempre que se precisa estimular no público um ódio vingativo, um sentimento fascista de grupo racial ou nacionalista, uma intervenção militar em área geoestratégica ou com fontes de energia desejáveis para os próximos anos, quando fontes de energia se tornarem muito raras & caras.

Estava já tudo às claras no documento sobre a Nova Ordem Mundial, de um grupo de poderosos que começou a traçar esse plano no fim dos anos 1990, mas que vinha de muito mais longe, desde antes de famosos apertos de mão com Saddam Hussein. 

Delineado linha a linha. Pode ser aplicado a isso que era o futuro deles com muito mais exatidão do que as Centúrias de Nostradamus jamais puderam (& bem que o velho adivinho gostaria).

Em uma palavra, plano. 

Os próximos passos também estão claros: o Brasil, como algumas outras, será uma nação escrava na Nova Ordem Mundial, uma versão de serviços do antigo colonialismo. 

Multidões sem direitos trabalhistas serão "empregadas" por uns míseros trocados para feitores brasileiros de senhores estrangeiros. Miséria nunca vista cobrirá as ruas das cidades, & a massa que não se conformar será esmagada por militares, também parte do método Jucá de Golpe de Estado: "com o STF, com tudo".

Com tudo.

Esses feitores brasileiros são os políticos de direita, parte significativa dos grandes empresários e do exército & suas ramificações ainda mais sombrias, porque inivisíveis (& quem levanta o véu para ver, como sabemos, acaba indo ver também as raízes das plantas).

Houve casos extremos, como a Síria, & o melhor, para os verdadeiros senhores deste país, é que sequer precisaram invadi-lo com força militar, fazendo uma sujeira danada & criando um problemão para explicar a encrenca no futuro: os brasileiros entregaram tudo o que tinham voluntariamente, & achando bom. 

"De mão beijada", como se diz por aqui, expressão de gente servil ao velho mundo reinol, o da velha colônia. 

Os brasileiros são escravos dóceis, o melhor tipo de escravo que há.




Pedem que os militares venham botar ordem no coreto. Mas não se perguntam:

a) Onde estavam os militares quando houve um Golpe de Estado contra presidente eleita democraticamente, & inocentada então por perícia técnica do Senado, inocentada pelo Ministério Público, & hoje com atestado completo de idoneidade? E para pôr bandidos no lugar dela?

b) Onde estavam esses militares "patriotas" quando a cúpula golpista doou para os estrangeiros nossas maiores riquezas, nossos recursos naturais, o petróleo, a água, nossas terras? 

c) Onde estavam esses militares salvadores quando o golpistinha chamou uma superpotência para pôr uma base militar na Amazônia? 

d) Onde estavam os militares "patriotas" quando juízes soltaram todos os corruptos da lista do Garoto Juká lá na conversa com o chapa da Transpetro, o acordo com tudo?

e) Onde eles estavam quando prenderam um líder popular, ex-presidente, inteiramente inocentado pela única prova que se conseguiu, a prova de que o triplex pelo qual está encarcerado numa solitária não é dele? 

Nesse último caso, os "patriotas" se agitaram & saíram ameaçando o STF que, se não prendesse o inocente, estavam prontos a intervir. De resto, estavam do lado, literalmente do lado, do Brasil golpista. 

Bolsonóia também acha que a Amazônia não é parte do estado nacional do Brasil & pode ser doada convenientemente.

Quem pede intervenção militar assina uma declaração simples & direta de completo retardo mental.


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Guilherme Boulos, candidato a presidência da República pelo PSOL escolheu um herói excelente, perguntado sobre no Roda Viva: Zumbi dos Palmares. 

Esse não se entregou. Mas o repugnante mediador já havia avisado Boulos antes - mediador com sorrisos de mordomo covardemente assassino (parecidos com o do golpistinha) - que gente como ele acaba não podendo governar, apeado do poder de um jeito ou de outro.

E Boulos, uma das poucas pessoas de brio no país ainda vivas & fora da prisão: "Nós queremos governar para os 99%, não para o 1%. E não vamos aceitar chantagem de ninguém."


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É importante ir assistir ao premiado documentário O Processo (2018), de Maria Augusta Ramos, sobre os bastidores do Golpe de Estado de 2016. Está em cartaz, faz algum tempo, já.

O filme é sólido: mostra sem dó as contradições & os erros do Partido dos Trabalhadores, mas mostra, sobretudo, a canalhice de se aproveitar isso, que é inerente à democracia, para desmontá-la de modo irresponsável, arrastando o país à completa ruína que estamos já próximos de presenciar.

O documentário termina de modo oracular. 

"Ficou muito claro para a sociedade brasileira
qual é a aliança pelo impeachment: reúne
corruptos, torturadores e traidores da pátria."