domingo, 16 de agosto de 2015

Golpe de Estado: comemorando a evolução de uma especialidade brasileira

Eles conseguiram seu brilhante objetivo: quase 30 anos de ditadura militar.


Um maravilhoso desenvolvimento da sociedade brasileira deve ser reconhecido.

Antes -- e nem faz tanto tempo em termos históricos, isto é, na década de 1960 -- confiou-se o Golpe de Estado às forças armadas, o exército, que, não tendo particularmente um centro nervoso nem inteligência, aceitou ser o boi de piranha massacrante dos ricos empresários que queriam tirar do caminho qualquer hipótese de menos injusta distribuição de renda, e de uma modesta reforma agrária, para ter caminho livre à manutenção de seus vastos privilégios de classe e seus imensos lucros.

Agora não, nada mais de atravessadores armados e torturadores. A receita nova, civilizadíssima, inclui:

a) um ex-candidato chorão, que, tendo perdido no páreo eletivo, quer levar a bola com ele;

b) a mídia inteira, capitaneada por seus donos e realizadores, isto é, a classe rica que usou os milicos da última vez que quis o serviço feito;

c) o povo, sempre uma útil massa de manobra da "grande mentira": se Hitler soube manipular suas massas e definir o esquema ("Torne a mentira grande, simplifique-a, continue afirmando-a e todos por fim acreditarão nela", que, embora ele a exercesse, atribuía, claro, aos judeus), a mídia brasileira e a presente oposição política ao governo aprenderam a lição e aperfeiçoaram suas iscas.

As classes altas, seu braço de mídia e seu braço político perceberam esta verdade elementar: "Ora, por que derramar sangue e criar eventuais mártires? Vamos usar o velho método da propaganda, deixar as pessoas engolir nossa conversa mole e elas farão o serviço sozinhas, sem nem perceber que agem contra o próprio interesse, e a nosso favor".

O Brasil evoluiu, crianças. Quem disse que só dá passo para trás? No esquema do Golpe de Estado o Brasil conseguiu deixar o lugar-comum militar para finalmente chegar ao Golpe Branco. E as classes altas descobriram uma coisa que nem sabiam existir, porque é pra onde em geral mandam seus empregados mal pagos: a rua.

É hora de comemorar: mesmo a estupidez coletiva pode se aprimorar, e este domingo é um domingo histórico para ela. Parabéns, Brasil. Agora falta bem pouco para o país realizar todo o seu alegre potencial golpista, deixado ligeiramente de lado em 1985.


"Abaixo as urnas": esses estão perto de conseguir, também.