Retrato anônimo de Nicola Antonio Porpora no Museo Internazionale e biblioteca della musica, em Bolonha.
Parte daquilo que é bom no século XVIII, Nicola Antonio Porpora morreu na miséria. É mais famoso por ter sido professor de Farinelli, o notório castratto, já cinebiografado.
Músico extraordinário, & um dos mais brilhantes compositores de obras musicais para a voz, escrevia com impressionante variedade dramática para o canto. Alguns dirão que suas obras não têm peso, que a disputa com Haendel lhe punha em vergonhoso desfavor.
Não é verdade. Suas obras não pesam, & eu devo agradecer aos céus que o Notturno per i defunti seja uma peça que quase não pareça algo solene, mas transpire agilidade & graça inefáveis. É característica de sua mão essa graça, esse colorido que não exaurem jamais a audição, que parecem jamais se repetir, que vão acumulando prazer em prazer na audição.
Foi um trabalho de amor o que levou à reunião desses textos musicais numa edição (do aliás belo catálogo da Fuga Libera) que respeita seu autor, mesmo onde o documento é falho & exige a reconstrução hipotética dessa obra escrita pelo napolitano em Veneza, & que é tão veneziana quanto o texto em francês da Histoire de ma vie, de Giacomo Casanova.
A elegância ligeira de seu estilo é doce & educada, & tem algo daquela cidade de água, & daquele século da miniatura, como na pintura de Watteau, ou no retrato sutilmente erótico da dama com chapéu branco, de Jean-Baptiste Greuze.
Nos últimos anos, Porpora vem sendo aos poucos redescoberto. É uma justiça bastante tardia, mas, não obstante, justiça.
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