quarta-feira, 11 de maio de 2016

É HOJE

Segundo mês, Ano I do Golpe de Estado



Luiz Gê apresenta a versão condensada do nosso presente terror

O desastre, anunciadíssimo, não pôde ser evitado por nada. Não pôde ser evitado pelas advertências da classe intelectual, nem pelas advertências da classe artística, ambas presentes em peso & entre eles algumas pessoas que tiveram o infortúnio de ver o outro Golpe, o de 1964; não pôde ser evitado por tentativas de pressão popular nas ruas (não se engane, a maioria deste povo está contra o Golpe, a despeito do que mentem os jornais voluntariamente); não pôde ser evitado pela pressão da consciência jornalística internacional, que ficou estarrecida de ver um Golpe orquestrado pela mídia & pelo que há de pior na sociedade brasileira, até mesmo rindo daquele dia 17 de abril, dia que entrou para a História da Infâmia Universal; não pôde ser evitado por manobras políticas; não pôde ser evitado por mais de 8 mil juristas apontando o absurdo que se cometia ilegalmente, contra a constituição, contra o Estado de Direito, contra a democracia.

Em resumo: não pôde ser evitado.

O que significa que os poderes envolvidos estão muito além de qualquer esforço, qualquer consciência democrática, qualquer disposição para a luta, exatamente como em 1964. São interesses tão profundos que não conhecem nenhuma espécie de legalidade & passam como um trator sobre o Estado de Direito.

Não obstante, a luta continua, agora para pemanentemente acusar o falso governo do golpista, o usurpador Michel Temer - que aliás cumpre apenas sua vocação de muitos anos de espera por uma oportunidade ilegal para ansiosamente agarrar o poder, mesmo que como mero fantoche da classe mais rica & conservadora no Brasil, dos políticos que têm poder de fato & ficarão sobretudo nas sombras, & dos interesses estrangeiros que avassalarão a nossa, ah-ham, "soberania" definitivamente. 

Assisto, de dentro, à ruína do Brasil. Mas seria interessante, para contrapor a mais um momento que juntará a vergonha de estar aqui, a pouco mais do que olhar, & o desgosto de saber que o retrocesso não destrói apenas a recente democracia, mas lançará o país a níveis de antes de 1984 (em alguns casos do Plano Ponte para o Inferno, a antes da década de 1930), seria interessante postar algumas últimas coisas, um pouco de luz.

Para começar, é bom lembrar que devemos este presente Golpe de Estado de 2016 à mídia: às Organizações Globo, à Folha de São Paulo, ao Estado de São Paulo, & a um bom número de revistas que, como os veículos acima mencionados, estiveram sempre do lado dos Golpes & contra a população brasileira, defendendo os interesses do 1% (ou menos) de mais ricos. Se não me acreditam, dêem uma boa olhada no seguinte quadro, já que uma imagem vale mais do que mil palavras, como diz o velho deitado:

Capas da revista Veja, bastante reveladoras 
do serviço prestado ao Brasil:
ao menos, não se pode dizer que a revista 
tenha sido incoerente. 
Notem a alegria na cara de Aécio Neves 
ao fazer parte da brincadeira.

A Veja é um exemplo excelente: esteve do lado de tudo o que de pior houve no Brasil. Hoje, a revista é um dos veículos de imprensa diretamente envolvidos no Golpe de Estado de 2016, como esteve (Veja acima) envolvida no Golpe de 1964, & esteve ligada à Globo na promoção ativa de ninguém menos do que o "Caçador de Marajás", Collor de Mello. 

Há uma capa da Veja muito interessante, do período da ditadura militar, esta aqui:


"Comando firme", segundo o  que a Veja 
chama jornalismo, a prática de censura, prisões arbitrárias 
de opositores do regime, tortura sistemática, 
& outros crimes contra a humanidade 
sob o ditador brasileiro, que a revista 
não obstante lambia como um bom cachorrinho, 
como lambe a versão disso hoje.

A defesa do pior, na imprensa de grande circulação do Brasil, é constante. Pessoas que não se beneficiam nem se beneficiaram de nada disso compram essas revistas, esses jornais, esses programas de TV, e, junto, compram a atitude que esses veículos promovem como prática jornalística, quando não passa de panfleto dos piores, mais violentos, atrasados buracos da vida pública brasileira, novamente, o interesse desse 1% inescrupuloso de ricos.

Hoje o Senado afasta Dilma Rousseff, presidente legitimamente eleita pelo voto democrático de 54 milhões de brasileiros, sem quaisquer acusações de enriquecimento ilícito, sem nem cheiro de crime de responsabilidade em sua experiência no governo, abreviando seu segundo mandato em mais de 2 anos, no que constituirá um Golpe de Estado, desta vez dado pela mídia em conluio com parte do empresariado (a Fiesp está neste Golpe como esteve em 1964) & com os piores esqueletos no armário da nossa política & do nosso judiciário (vocês sabem quem é Gilmar Mendes, não sabem? Quem passa a alguns metros dele tem de tomar banho imediatamente).

O Brasil foi advertido várias vezes, uma delas no próprio Senado - que agora banca os três macacos, tapando olhos, ouvidos & boca -, por ninguém menos que um Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel. Para quem não viu, não ouviu nem comentou, vai aqui, para a vossa comodidade:




Esquivel ressalta, como tem sido importante ressaltar nos últimos meses, que se trata de um Golpe. 


Fogo nas ruas: desobediência civil diante do Golpe é,
para a imprensa, "baderna, violência". 


O Golpe é a maior violência que se pode cometer contra a população deste país: curiosamente, ontem, quando a resistência ao Golpe começa a se tornar fisicamente mais forte (& sem dúvida isso vai crescer), os jornais que deram o Golpe reclamam da "violência". Em outras palavras: "é o seguinte: vamos dar um Golpe de Estado. Vocês fiquem quietinhos aí." 



"Já vai acabar, pessoal, ninguém se agite. 
Continuem agindo como se nada estivesse acontecendo, 
não toquem fogo nas ruas."

Se você protestar, se agir no seu direito de desobediência civil numa tal circunstância, é claro, você é um bandido. Bandidos não são os que estão nas duas casas do Legislativo roubando o seu direito ao voto, entre outras coisas roubáveis que eles roubam impunes. Sobre isso, há uma ótima charge que saiu no jornal La República, do Peru, sobre isso aqui no Brasil:


"É preciso destituí-la, porque fomos nós que roubamos!", 
a lógica elementar por trás do Golpe.


A imprensa brasileira agora deseja que o brasileiro & a brasileira sejam dóceis & aceitem que perderam. Se não aceitarem & forem para as ruas interromper rodovias & avenidas com atos, passeatas, com barricadas de fogo, são baderneiros, violentos, o que torna quase uma obrigação moral fazê-lo. 

Dois pesos, duas medidas, o jogo da imprensa.

Aqui no Brasil, naturalmente, nossos quadrinistas também estiveram atentos ao Golpe. Um dos mais freqüentes sobre o assunto, também um dos mais talentosos, Laerte, nos deu algumas pérolas para futura referência. Esta aqui, sobretudo:


Sem os militares

É uma charge que resume tudo, como eu dissera já em agosto de 2015, aqui mesmo neste Demônio, que poderia dizer, com o Hamlet de Shakespeare, quando, da boca do fantasma do pai, descobre a usurpação, "o my prophetic soul":


The snake that now is wearing the crown, dissera o fantasma a Hamlet: é pena que a nossa tragédia não tenha sequer a dignidade de uma farsa. 

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