Que ele, de qualquer forma, faça aqueles ovos estalados,
sunny-side up, como os dois olhos de Hélios boiando no óleo,
nas ruas do centro velho fedendo a urina.
Não são portas de castelo aquelas paredes
com rochas enormes, espessas, onde num cubículo
estão os caras trabalhando em algo gorduroso;
ou um grupo de senhoras magras e suadas
com o cabelo preso e óculos, cigarro na boca,
costurando sentadas em filas nas máquinas Singer.
É duro fazer aquilo, quer dizer,
elas parecem absortas num contorno preciso.
E a nuvem cinzenta que paira
como em mesas ensebadas de baralho,
é claro, não ajuda.
Que o cozinheiro saiba torturar lingüiças na chapa
como os diabinhos fazem com as almas perdidas
em qualquer Juízo Final de painéis medievais.
Sabe sim. Com olhos sorrindo no rosto pespegado
de gotículas de suor, ele vira e diz:
Tá um inferno aqui, chefia.
sexta-feira, 11 de maio de 2007
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5 comentários:
Olá, gostei muito do poema. Repleto de imagens densas... fechamentos... circularidades... não sei bem como dizer mas a exploração da sonoridade sugere esse movimento circular. A segunda parte do segundo verso é ótima. Ótimo também os caras "trabalhando em algo gorduroso" ou o rosto "pespegado de gotículas". A densidade não fica apenas nas imagens geradas pela palavra grafada mas também, e principalmente, pela palavra dita: Som.
Fiquei interessado em conhecer outros.
ass:conrado
denso, denso, como o óleo na frigideira, como a sentença final, amarradíssimo.
forma é muito nessa vida - outros elogios por hora são dispensáveis.
Grazie a todos, grazie. Aprendendo ainda a usar o blog, sabem como é, vou aos poucos.
Conrado, caríssimo: outros poemas deste Dirceu Villa são acháveis na seguinte página
http://www.germinaliteratura.com.br
/dirceu_villa_agosto06.htm
Gaudete,
D.
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