sexta-feira, 17 de setembro de 2010

IL MAGNIFICO & lançamento duplo

Andrea del Verrocchio, Busto de Lorenzo de' Medici (c. 1480, terracota), National Gallery de Washington

É claro q quase me esqueci de uma porção de coisas. E ainda outro dia falava sobre a memória, etc.

Aqui vão duas delas: Victor del Franco, editor da revista digital Celuzlose, me pediu um texto com traduzioni sobre um poeta das antigas, à minha escolha. Pensei & decidi q seria Lorenzo de' Medici, seja porque sua poesia sempre for importante para mim, seja porque é uma beleza, ou porque — va savoir — pense q há algo ali necessário hoje.

"Necessário" é algo bem diferente, no meu dicionário, do q costumam dizer por aí.

A quantidade de poetas soi-disant q escreve poemas sobre a linguagem — ou a poesia, em abstrato — é tão grande q suponho seja educativo ler um desses ancestrais escrevendo poesia até mesmo filosófica com atenção para as coisas, & não atenção na pose existencial de boina & mole discurseira balofa.

Escrever sobre qqer coisa NÃO É POESIA, é um catálogo de intenções.

O parnasianismo de hoje — digo, aquilo contra o q qqer poeta com um mínimo de miolos se insurgiria, se de fato houvesse algo parecido com a velha vanguarda — é realmente a conversa fiada sem forma q quer ser bacana.

Esse é o parnasianismo de hoje, tão oco & tão clichê qto seu tolo ancestral fin-de-siècle. A única diferença é q hoje a lengalenga está empoleirada na bandeira do "plus quam modernus", & as pessoas costumam engolir porque, ora essa, como saber o q realmente presta?

É como aquela luta q retrata tão bem o estilo bronco da nossa época, o vale-tudo.

Deixo o link da Celuzlose número 6, & um dos sonetos de Lorenzo, infra. De qdo o soneto, aliás, não era ainda mero tique q acionava os, ah-ham, poetas a pôr a massa naquela fôrma comprada na 25 de março, como acontecia com, entre inúmeros outros, Antero de (re)Quental.

Lorenzo: "Lascia l'isola tua tanto diletta".

Deixa aquela ilha tua tão dileta,
deixa o teu reino belo e delicado,
Ciprina deusa: vem sobre o relvado
suave e verde em que um riacho deita.
Vem a esta sombra que a brisa espreita,
fazendo murmurar todas as árvores
ao som doce e amoroso de suas aves
e que esta por sua pátria seja eleita.
E se tu vens a estas claras linfas,
traz teu amado e caro filho contigo,
que aqui não se conhece o seu valor.
E tolhe a Diana as suas castas ninfas,
que agora seguem leves, sem perigo,
pouco prezando a virtude do Amor.


Enquanto isso, madre de dios, amanhã haverá o lançamento duplo dos livros de Ana Rüsche & Fábio Aristimunho na Casa das Rosas. Eu & outros leremos poemas dos dois autores, & después haverá, por supuesto, os autógrafos & toda a coisa convival no café ao lado.

"Nós que Adoramos um Documentário", de Ana Rüsche
"Pré-Datados", de Fábio Aristimunho Vargas

16h APRESENTAÇÃO DOS LIVROS
Mediação: Beatriz Galvão
- Renan Nuernberger
- Silvana Pessoa

LEITURA DE POEMAS
- Andréa Catropa
- Berimba de Jesus
- Dirceu Villa
- Maiara Gouveia
- Paulo Ferraz
- Rafael Daud
- Roberta Ferraz

18h Autógrafos no Café

Os livros serão vendidos a R$ 22,00.

Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Av. Paulista, 37. Estação Brigadeiro do Metrô, próxima ao Shopping Paulista
Tel.: (11) 3285.6986 / 3288.9447,
contato.cr@poiesis.org.br

6 comentários:

Marcos Tamamati Martins disse...

Laurentius

Ah! Villa, má q P. txt!

Parabéns e aplaudo de cá, meu irmão!

"(re)Quental" Hahahaha!



Uma pena não poder (ainda) ir até esse espetáculo, véi!

...seja como for: Abrçs! Bravo!

Anônimo disse...

Posso ir de boina na Casa das Rosas?

Dirceu Villa disse...

Pode, só não me deixa ver.

Marcos Tamamati Martins disse...

\_/

Cleiton disse...

Como o senhor diferencia um poema com forma de um sem? Como faz para julgar entre um mau poema e um bom e o que o senhor estaria trazendo com sua poesia de contribuição formal?
Não sou escritor, poeta, embora aprecie a literatura. Gostaria de conseguir compreender o que o senhor diz.

Dirceu Villa disse...

Cleiton, Sr.

Sim, entender é o q todos queremos &, às vezes, o processo de entendimento pode trazer alguns percalços frustrantes pelo caminho, como o Sr. de certa forma o demonstra ao ler minhas anotações incompreensíveis.

Espero ser-lhe útil abaixo, considere.

Qqer. um q der ao Sr. uma lista de “como fazer”, ou “como diferenciar” bom de mau, de duas, uma: a) estará caçoando do Sr.; b) estará bancando o teórico, q vem a ser qdo, diante da variedade de fenômenos, tomamos a via de redução q resulta em generalização abstrata & inexperiente.

Não creia em quem lhe der isso de bandeja, sugiro.

Essa diferença existe, entre bom & mau, & ela exige um educar-se para notá-la: a poesia é uma arte recessiva, lida por poucos, possivelmente cultivada por menos ainda (embora pessoas de mau humor digam q é o contrário). Talvez seja um solene sinal dos tempos, talvez seja justíssima ironia da vida contra os ares injustificáveis de importância dos poetas. Quem sabe?

Para lhe dar uma resposta q lhe trouxesse alguma satisfação seria necessário q o Sr. desse uma espiada nesses anos em q venho escrevendo ensaios & intervenções. Não há como espremer aquilo numa pílula, por mais desejável q seja para abreviar o suplício das pessoas.

Qdo perguntaram a Whistler, o pintor James MacNeill Whistler, se cobrava tal quantia por aquele quadro pintado em 1 dia (achavam muito dinheiro para pouco tempo, & menos quadro), Whistler respondeu q na verdade cobrava aquela quantia por todos os anos q chegar à técnica daquele quadro implicava.

Estou de acordo q a resposta parece um tipo de conversa fiada para distrair a boa gente honesta, interessada num estilo direto & exato.

Mas convido o Sr. a meditar sobre o assunto, supondo q Whistler não fosse mero cabotino, q tivesse aprendido sua arte (& bem) com Velázquez, com gravuristas japoneses & etc; supondo isso, como Whistler poderia, de outra forma, explicar o q sabia, & de modo conciso & sem tomar demasiado o tempo precioso daquelas pessoas simpáticas & ocupadas com outras coisas de importância verdadeira?

Supondo q o soubesse? É algo perturbador.

Fiz o possível para enfrentar o assunto no espaço exíguo de uma resposta de bolso há alguns meses atrás, para uma pergunta igualmente ampla feita a mim (& a outros poetas & escritores) pela revista Zunái. O link em q o Sr. encontrará minha imprudência é este:

http://www.revistazunai.com/depoimentos_debates/qualidade_de_um_poema.htm

Sobre minha poesia, & as benesses q traria à questão formal.

Não poderia, sem incorrer em extrema deselegância, ou mesmo num abominável gesto antinatural, me estender sobre todas as maravilhas formais, inovadoras ou contentes de registrar seu débito com os mais velhos, da minha poesia.

Isso, por questão de adequação, ficará feliz ou infelizmente a cargo de leitores & críticos, q não eu mesmo. Não q eu confie de modo absoluto, como acreditavam os antigos, naquilo q chamavam evidentia rerum, mas há limites para tudo, se por nada mais, pelo risco declarado de se irritar um daqueles deuses suscetíveis.

Evitarei fazê-lo aqui ou em qqer outro lugar, mas, como Maiakóvski disse de seus próprios poemas: testemunham o q fiz os três tomos (ainda) da minha obra de poesia.

Espero ter sido útil, caríssimo Sr. Cleiton, & q a escuridão das palavras anteriores (não foi deliberada, me desculpo) tenha ganho alguma luminosidade com o presente cuidado q lhe dedico.

Se não, é ao escritor q se deve culpar: o escritor é sempre culpável.

E vai daqui um abraço,

D.