sábado, 6 de março de 2010

Três pequenos poemas de Jean Cocteau

Está explicado como Cocteau conseguia fazer tanta coisa


Jean Cocteau fez de tudo: poesia, romance, teatro, música, crítica literária & de arte, cinema, fotografia, cenografia, performance, & uma porção de etc.

E era excelente em cada uma dessas coisas, o que gerou uma ciumeira danada, & mesmo hoje muita gente quer dizer que ele era apenas um sujeito que não sabia parar quieto. É bobagem, era um artista completo. Dava entrevistas inteligentíssimas, captava coisas complexas com facilidade impressionante.

Pouco lido & ainda menos traduzido no Brasil, as usual. Seu cinema é um pouco mais conhecido, sua obra plástica chega em algumas edições estrangeiras. Ignora-se sua crítica de arte, seu teatro vez por outra aparece aqui & ali em montagens pequenas & independentes. É devagar.

Além de tudo, foi muito influente: de Ezra Pound a François Truffaut, quase todo mundo aprendeu alguma coisa com ele. Era um poço de anedotas (bem pouco gratuitas: todas educavam).

Proust por exemplo pediu que Cocteau tentasse fazer a Madame de Chevigné (em quem teria baseado a duquesa de Guermantes) ler Em Busca do Tempo Perdido. Cocteau respondeu a Proust: "é o mesmo que pedir para uma formiga ler Fabre".

Ou, quando conta da reação de Erik Satie ao saber que Ravel recebera a Legião de Honra & a rejeitara. Satie teria dito: "Pode ter rejeitado, mas toda sua obra a aceitou".

Venho aos poucos traduzindo Le Cap de Bonne Ésperance (1919), que vocês sabem como é a vida, mas trago aqui um modesto aperitivo, três poemas colhidos na obra de Cocteau.



De SÓCRATES

O que distingue essa tumba
Das outras, dito de passagem,
É que aqui não vêm as pombas,
Mas dois cordeiros da pastagem.

Visitadora, não vos vexe
Esta sábia vítima dos tolos:
Foi a graça do vosso sexo

Que ele amou nos garotos.



Do DISCURSO DO GRANDE SONO

Eu trabalho, eis aqui a pluma,
o papel : a pista branca
onde o homem pode tourear o mistério.



ÍDOLO

Todas tuas velhas cicatrizes
Terra
foram o charme
da tua figura de guerra

4 comentários:

paulo de toledo disse...

oi, dirceu.
depois de algum tempo sem passar por aqui, voltei e já vi muita coisa bacana.
gostei bastante do texto sobre a "pose".
muito bons tb os poemas do cocteau.
voltarei sempre.
abbracci

Dirceu Villa disse...

Vai daqui um abraço para você também, Paulo.

D.

Dija disse...

Interessante anedota a imagem do "faz-tudo" rss. Não conheço muito de muita coisa, mas dá pra ver o quão completo ele era.

Emanuelle Andrade disse...

Isso tudo e muito show,to fazendo uma pesquisa para a escola sobre Jean Cocteau,e ele foi muito fera' To gostando muito,e cada dia estou vendo suas obras,e relatando na escola seu talento' E esse BLOGGER esta muito bom...Espero que melhore cada vez mas'Abraços...