A experiência mais assombrosa (& mais profundamente deleitosa) que já tive com música foi na Sala São Paulo, num recital de vozes que incluía no programa um trecho de The Seven Gates of Jerusalem (Sinfonia número 7), chamado De Profundis.
O coro de vozes foi escrito com tamanha ciência e delicadeza que era possível, por vezes, sentir nos ouvidos como que uma onda sonora fluindo de um lado para o outro do coro, dominando o sentido da audição como uma espécie de feitiço. Ou, quando as vozes graves sustentassem um trecho, despontaria, brilhante, um agudo do outro lado. Coisas desse tipo, que não paravam de surpreender & agradar os ouvidos.
Ridículo, talvez - como todas as pessoas atordoadas por imenso prazer costumam ficar - estava acompanhado dos mais circunspectos amigos Marcus Siqueira e Maurício de Bonis, que são músicos excelentes (Marcus Siqueira, por exemplo, tem um Fricamentum Punctatim que é uma obra simplesmente poderosa & indescritível).
Eles viam a minha surpresa e diziam: "é, é bonito". Mas eu não tenho como mentir: foi uma experiência mística para mim. Quase me saíam lágrimas dos olhos.
É, lembrei disso, & achei que seria justo & oportuno prestar essa discreta homenagem a Penderecki (por quem tenho imensa admiração & imenso respeito), talvez mais famoso por ter algumas de suas composições integrando trilhas sonoras de filmes do impecável Stanley Kubrick, como The Shining (O Iluminado).
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