Audrey Hepburn em Breakfast at Tiffany's (1961), de Blake Edwards
Breakfast at Tiffany’s (1961), de Blake Edwards, é um dos meus filmes favoritos. Deveria ter sido a primeira & a última comédia romântica. Não há nada mais doce neste mundo do que Audrey Hepburn cantando “Moon River” à janela de seu apartamento, uma invitation au voyage mais simples, verdadeira & tentadora do que a que Baudelaire nos faz no poema célebre.
E me lembro, incidentalmente, da piada em um episódio de Seinfeld, em que George Costanza (tinha de ser ele) entra para um Clube do Livro, mas obviamente não quer ler. O livro é justamente Breakfast at Tiffany’s, escrito por Truman Capote. George assiste ao filme ao invés de ir ao livro (o que é uma sublime preguiça, já que a história não passa de 100 pp. em letras grandes), e a piada final é sobre as diferenças entre uma coisa e outra.
Prefiro o filme ao livro, ainda que Capote seja, no corpo da narrativa, mais duro e realista. E prefiro o filme justamente pelo que resolveu adotar de uma doce e elegante fantasia ideal, que se tornou um ícone dentro das histórias de amor memoráveis da ficção. É como o trecho daquela velha canção do Casa Loma Orchestra, “Under a blanket of blue”: Let’s dream a dream of love for two.
Celia Johnson em Brief Encounter (1945), de David Lean
Por contraste, há uma pequenina obra-prima de David Lean, de 1945, um filme chamado Brief Encounter, baseado em peça psicologicamente complexa de Noël Coward (que assina o roteiro, também). É preciso pensar esses filmes juntos: um é a consumada história de amor, em que as peripécias nos conduzem à catarse; o outro, o cuidadoso estudo de um impasse. Nesse impasse os personagens não são particularmente encantadores, não é uma comédia, a realidade é contrafeita, o sonho não tem forças.
Não sei se Sofia Coppola pensava no que vou dizer, mas Lost in Translation é, de certa forma, um passo intermediário entre ambos, ou um modo de combinar aspectos daqueles dois filmes: filma o impasse como uma comédia, sobretudo pela presença inspirada de Bill Murray, já velho, e pela doçura torturada de uma (ainda mais) jovem Scarlett Johansson.
Bill Murray e Scarlett Johansson em Lost in Translation (2003), de Sofia Coppola
São filmes complementares. Suponho que rendam o melhor de si se os absorvemos entendendo e apreciando neles o que têm a encenar de uma verdade exemplar, nos ensinando, juntos, ainda uma outra vez o porquê daquela verdade muito antiga, que podemos vez ou outra esquecer: o amor é agridoce.
PS: este já preguiçoso Demônio Amarelo entrará agora em período de férias, & por motivo de força infinitamente maior.
Um comentário:
Salve, Dirceu!
É uma pena q o Demônio Amarelo saia de férias, torcemos p q seja por pouco tempo.
Grande abraço,
Fábio Gullo
Postar um comentário