segunda-feira, 25 de junho de 2012
perder, mas lutando
allmählich aber breitete sich diese anfechtung
aus wie ein um sich fressender rost.
hugo von hofmannstahl, brief des lord chandos
nas escadarias do berliner dom
onde sentei e teria chorado,
estrangeiros, mas outros,
fotografavam a fachada,
velhas sentavam-se rubras
de andar pela ilha de tantos museus
e filas de ingresso, e deuses lutando.
eu teria chorado, aguardando
a revelação da alegria,
tochter aus elysium, e o fogo
que inundaria meus olhos,
tomando meu corpo e espírito,
mais uma vez.
é tolo aguardar, entre a pedra,
um sinal da vitória do fogo,
e logo acima eu lia: unser glaube
ist der sieg, der die welt
überwunden hat, e todos sorriam,
turistas que estão de passagem,
sem nada no peito senão
câmeras, óculos, falta de ar,
que é somente cansaço de andar.
eu perdia, e a pedra da fé em berlim
gargalhava da antiga prece pagã,
tão perfeita expressão da vontade,
tão viva em meus lábios, e nada.
eu tinha o signo, a blusa vermelha,
e meus olhos detrás das lentes escuras
cansavam de ver sem achar.
teria chorado, é verdade: patéticos,
eu e os estranhos com quem dividia
a fina chuva em pleno dia, víamos
o leão da vontade morto nas lanças
do pouco saber. a realidade nos vence
por mera tolice; mas sonhos são belos:
leões contra pedra, feitos de fogo.
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7 comentários:
Que bonito, voltando a publicar poemas. E se não me engano tem um acento rüscheano neste. Que lhe cai bem.
Abraço
brilhante lamento pela estupidez. e a metaforização dos sonhos, no final, reaproveitando e sintetizando elementos anteriores, arremata com perfeição.
sabe, Dirceu, estou prestes a voltar a trabalhar depois de um semestre sabático totalmente dedicado à poesia. de fato a "realidade nos vence por mera tolice"; no final, a própria morte. só a beleza e o sublime compensam?
lindo
difícil saber o que compensa, é uma boa pergunta.
o woody allen ia ao cinema direto quando era moleque, por exemplo. dizem "escapismo", mas se esquecem de que o escapismo é uma arte mágica, é algo muito inventivo, desdobra a vida. pense no houdini.
compensa talvez ser capaz de encontrar um meio de tapear as circunstâncias.
as circunstâncias são uma limitação inconveniente, uma distração malcriada.
não há como fugir delas em definitivo, que isso daria numa camisa de força, infelizmente, mas os melhores jogadores são os que sabem driblar.
ou curvar a realidade ao sonho. é difícil, muitas vezes perde-se a luta, mas às vezes funciona.
e quando funciona vale cada segundo da aporrinhação que tivemos com coisas inúteis que não nos dizem respeito.
a realidade não é real, é uma convenção para o entendimento de todos a respeito do mínimo compartilhável.
então é um negócio muitas vezes bruto, acabrunhante, e indócil com a invenção, ou com os meios pouco convencionais de se viver.
daí realidade tem de ser o nosso modo de imprimir nesse mínimo convencional algo vivo, rebelde, algo que nega a convenção em favor de uma força mais fluida, mais interessante, uma ignição.
né(comoemsonho)voa
torna
grande cada dim
inuti
vo faz o óbv
io e
str
anho
a
té que
nósmes
mos vi
remos mun
(magic
a
mente)
dos
e.e.cummings ( tradução: Augusto de Campos)
"a realidade não é real"? sendo uma convenção, uma construção humana, não seria então uma abstração? vacuidade? ou talvez não seja "a realidade" ,mas realidades, que variam segundo a percepção de cada um?
bela resposta, Dirceu, especialmente a conclusão. de fato o equilíbrio, como provavelmente sempre, é a chave: atuar no mundo quando preciso, atuar sobre o mundo quando possível. e manter em mente, especialmente nos momentos mais ordinários, que sem o contraponto do comum, não haveria o incomum.
acho que é isso mesmo, julia.
por isso a realidade, no nosso acordo humano mais ou menos tácito, não pode responder pelo real, e a percepção nos dá uma fórmula de manejar (não necessariamente manipular) o mundo, de aplicar nossa mente a ele.
thanks for the cummings. always the best.
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