A Rio +20 não é séria.
Já não seria séria pela espécie de logomarca do chamado “desenvolvimento sustentado”, que é uma chancela de fachada para todo tipo de abutre ganancioso fingir que tem um distintivo verde que lhe permite destruir o que for preciso pra ganhar dinheiro.
Não se trata de “desenvolvimento” (que não tem definição coerente), e muito menos “sustentado”, a menos que se queira dizer com isso que o enriquecimento de grupos privados deva ser sustentado pela rapinagem dos recursos naturais.
Propagandeia-se a Rio + 20 como o Brasil se importando de fato com questões ambientais, o que é o contrário dos fatos, & o contrário dos fatos precisa apenas do sussurro de um nome infame: Belo Monte.
Os defensores desse monstro hidrelétrico, desnecessário & caríssimo, que vai inundar as terras em volta, descaracterizar o ecossistema, desfigurar as terras dos índios, e criar uma situação inteiramente artificial de deslocamento humano para o lugar, têm tentado fugir da questão afirmando que é um orgulho nacional de empreendedorismo que os estrangeiros atacam por ciúme, ou medo da competição.
O que é uma fácil, mas bem ordinária, cortina de fumaça.
Sobretudo porque há uma boa lista de empresas estrangeiras monstruosas metidas em Belo Monte.
O poeta Gary Snyder, em um texto apresentado na Índia, em 1992, já percebeu como a conversa dos negócios tenta driblar suas efetivas responsabilidades ambientais com esse truque barato para os olhos do público.
Escreveu: “como temos freqüentemente visto, as agências do governo, ou os interesses dos negócios, conseguem co-optar a hinterlândia local como propriedade privada ou “nacional” e, implacavelmente, a desenvolvem de acordo com um modelo industrial”.
Não está falando do Brasil, o texto tem 20 anos, & não creio q seja necessário sublinhar sua importância para o assunto em questão aqui, & como a coisa se repete.
Seria interessante, também sobre isso, que se lessem todos os ensaios de Snyder no livro re-habitar―ensaios e poemas (org. Luci Collin & Sergio Cohn; tradução & apresentação, Luci Collin), Rio de Janeiro, Azougue Editorial, 2005.
Por exemplo, o q eu disse lá em cima sobre essa expressão q virou moda, “desenvolvimento sustentável”, Snyder, no ensaio “Escrita não-natural” (1992, mesma edizione brasileira):
“Há um discurso verdadeiramente perigoso numa expressão ouvida em alguns círculos empresariais e do governo: ‘desenvolvimento sustentável’. O desenvolvimento não é compatível com a sustentabilidade e a biodiversidade. Temos que parar de falar em desenvolvimento e nos concentrar em como atingir uma condição estável de sustentabilidade real. Muito do que passa por desenvolvimento econômico é simplesmente a extensão ainda maior das funções desestabilizantes, entrópicas e desordenadas da civilização industrial”.
Ricardo Domeneck disponibilizou em seu blog “Belo Monte, anúncio de uma guerra”, o filme completo. É oportuno, não apenas por causa da hidrelétrica em pleno curso, mas pelo flagrante desrespeito a questões não-resolvidas que o governo simplesmente pôs pra baixo das máquinas que estão desfazendo a região.
Assinei, quando ainda estava em Londres, o abaixo-assinado para tentar oferecer resistência ao projeto. É preciso fazer o possível contra ele.
Recomendo a todos uma visita ao blog de Domeneck & atenção ao filme. É preciso rejeitar esse modo de fazer, ah-ham, “política ambiental”, e é preciso saber quem está mentindo para ganhar com a destruição.
Aqui:
http://ricardo-domeneck.blogspot.com.br/2012/06/belo-monte-anuncio-de-uma-guerra-filme.html
E há Eduardo Viveiros de Castro, grande antropólogo, autor da verdadeira obra-prima que é A Inconstância da Alma Selvagem (São Paulo, Cosac & Naify, 2002), livro que reúne ensaios revolucionários sobre questões de etnologia indígena pelo foco do que se chamou perspectivismo.
Sou perfeitamente leigo no assunto, mas me interessei profundamente, por exemplo, pelas questões de identidade entre os Araweté, que Viveiros de Castro estuda em "Imanência do inimigo".
Viveiros de Castro se pronunciou sobre o assunto de Belo Monte, porque trabalhou na região de Altamira & obviamente conhece melhor do que a maioria de nós a situação. Domeneck registra o vídeo em seu blog, e é importante assisti-lo também.
http://ricardo-domeneck.blogspot.com.br/2012/06/noticias-de-belo-monte-eduardo-viveiros.html
E há Eduardo Viveiros de Castro, grande antropólogo, autor da verdadeira obra-prima que é A Inconstância da Alma Selvagem (São Paulo, Cosac & Naify, 2002), livro que reúne ensaios revolucionários sobre questões de etnologia indígena pelo foco do que se chamou perspectivismo.
Sou perfeitamente leigo no assunto, mas me interessei profundamente, por exemplo, pelas questões de identidade entre os Araweté, que Viveiros de Castro estuda em "Imanência do inimigo".
Viveiros de Castro se pronunciou sobre o assunto de Belo Monte, porque trabalhou na região de Altamira & obviamente conhece melhor do que a maioria de nós a situação. Domeneck registra o vídeo em seu blog, e é importante assisti-lo também.
http://ricardo-domeneck.blogspot.com.br/2012/06/noticias-de-belo-monte-eduardo-viveiros.html
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