segunda-feira, 12 de março de 2012

JEAN GIRAUD, ou MOEBIUS (1938-2012)

Moebius, par lui-même

Escrevi em 2005 um pequenino necrológio para o grande Will Eisner, que criou o Spirit, as notáveis narrativas sobre Nova York, a graphic novel, e, entre outras coisas, descreveu num livro de mestre a chamada arte seqüencial.

Devo igualmente a Moebius muitas horas de pura felicidade lendo suas obras-primas de HQ.

Não era apenas um dos maiores desenhistas & roteiristas que se possa conceber: desenvolveu um tipo específico de imaginação que se apropria do que estiver por perto e transforma isso em algo útil para se contar uma história que não tem começo, nem meio, nem fim (& duvido que tenha exatamente uma explicação).

Perdi a conta de quantas vezes entrei na Garage Hermétique, que ia se modificando conforme desenhava e ia incluindo referências. Seus personagens começavam de um modo (& em um estilo de desenho) e passavam a assumir outros, num ritmo desconcertante.

Les Yeux du Chat, com Jodorowsky, ou Silver Surfer: Parable, com Stan Lee,  um longo etc. & um verdadeiro monte de narrativas publicadas na Métal Hurlant provam substancialmente a enorme importâcia do quadrinista francês. 

Satirizou o "francês em férias". Ouvi dizer que conseguiu insuflar alguma vida até mesmo no Alquimista de Paulo Coelho. Era um artista verdadeiramente fora do comum.

Então esta é apenas a modesta lembrança, em sua homenagem, deste distante mas atento humanóide associado.

E que as HQs sejam cada vez mais reconhecidas no mundo da arte: Bill Watterson, Alan Moore, Guido Crepax (que também morreu recentemente), Robert Crumb, Laerte, Milo Manara, Miguelanxo Prado, e muitos outros desde o Yellow Kid (e sobretudo desde o Little Nemo, de Winsor McCay), neste pouco mais de 1 século de quadrinhos, estariam na lista essencial de qqer pessoa com algum interesse efetivo em arte.


O Major Fatal

5 comentários:

marcos tamamati disse...

belo post!
e o katsuhiro otomo, e o chris ware, hergé...!

(tem um jogo, e é um bom(!), baseado no little nemo do winsor mccay! :)http://www.youtube.com/watch?v=UWl0nPjAVxA&feature=related

Fábio Romeiro Gullo disse...

Dirceu, esta postagem revela o quanto sua concepção do seja arte é abrangente e o quanto vc, como artista, crítico - como intelectual - sério, é digno de admiração, uma vez q, ao elogiar abertamente as HQs, não está nem aí p o q intelectuais mais restritos pensarão disso (lembro-me de uma discussão entre eu, Flávio Viegas e Marcelo Ariel, na qual eu e Ariel defendíamos Watchmen contra as famosas invectivas de Flávio, q, veja-se, não havia sequer lido o romance gráfico e afirmava categoricamente q jamais o leria...)

Dirceu Villa disse...

Agradeço, Fábio, mas não mereço esses elogios. Meu vício em HQs vem desde antes de ser capaz de ler.

E sou um poeta: se alguém pode sentir alguma solidariedade por um gênero de arte esculachado, buenas, esse alguém sou eu.

E não estou fazendo muito, aliás. Você sabe, o Octavio Paz adorava Os Simpsons. Creio que os artistas em geral têm menos resistência a esse tipo de coisa que os críticos. Mas pode ser apenas um palpite meu.

E, pra dizer a verdade, embora fosse apenas saudável de um modo geral que a crítica percebesse a importância artística das HQs, os quadrinistas estão se lixando pra isso, porque o público deles é Legião.

As coisas já fluem num esquema vivo desse.

Fábio Romeiro Gullo disse...

Oi, Dirceu. Agradeço a resposta, afinal nem todos os blogueiros respeitam sua audiência. "os quadrinistas estão se lixando pra isso, porque o público deles é Legião", além de verdade, é um puta tapa na cara de uns e outros q a isso responderiam preferir ser pouco mas bem lidos do que o contrário. Pura dor de cotovelo.

Dirceu Villa disse...

Fábio,

de fato, ser bem lido importa mais (ao menos na minha opinião de escritor) do que ser muito lido. Não se trata necessariamente de dor de cotovelo. Há gente muito lida que obviamente não vale nada.

Ahora bien: ser muito lido traz comodidades inegáveis para o próprio trabalho artístico, isto é, ser muito lido significa não precisar lutar para sobreviver.

Moebius foi as duas coisas , bem lido e muito lido, porque teve também a sorte de ser percebido por gente como Federico Fellini, entre muitos outros. Teve os melhores leitores, e os teve em quantidade mais do que confortável. Merecidamente.

A crítica de arte e literatura está perdida, como tenho dito aqui. Temos bons críticos que lêem o passado, mas o presente está vazio de crítica que entenda o que está acontecendo.

Esse vácuo é um fenômeno sobretudo brasileiro. No futuro as pessoas vão tentar explicar isso. Haverá um bom espaço para teses sobre o assunto, I'm quite sure.