quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

façam suas apostas


desbastar do crânio
toneladas de palavras:
quem cultiva o balbucio
que coma suas mil larvas;

enquanto penteio palavras
a contrapelo,
vinte inválidos palermas
contam favas;

mas trouxe maçaricos,
lança-chamas
e o belo incêndio que verão
engolirá os trapaceiros
de plantão;
“crises”, direi, “como no almoço;
coveiros literários,
sepultados com seus ossos”.

ler livros que não passam
de farrapos?
ou reunir, numa feira de acepipes,
velhos trapos?

quantos dormem
aturdidos pelo vento
— uma existência miserável?
a estátua patética e grotesca
de anhangüera bandeirante,
com merda na cabeça
em pé no trianon?

não despertarão
do sono estético de estante?
o merencório de janela, com o anestésico
que compra com a dor
de liquidação,
oscila entre o verso
ou algum outro remédio
da emoção.

“poeta bom é poeta morto”
diz o lema da crítica,
ano um.
desentoca aquela mítica
fúria, alecto velha e cancerosa
que invade venenosa
o labirinto da memória.

mas mesmo diante
dos macacos:
cego, surdo e mudo,
a poesia vive
e não requer escudo
pra batalha,
a despeito de paspalhos
e outras tralhas.

os estados unidos do brasil
gostam de remendos
na velhíssima antigualha
sociopatológica de ocasião,
por isso a inapetência
não descreve
a história dos costumes
engessados em fardão;

críticos/poetas de sala de estar:
mentes com picotes
de onde destacar.

4 comentários:

Ricardo Domeneck disse...

E isso é o que eu chamo de poesia tesa. Aliás, eu sempre gosto muito quando você incorpora o poeta-como-boca-do-inferno. Alguns de meus favoritos entre os poemas do "Icterofagia" estão nesta função milenar do poeta: botar os boçais em seus lugares... ou não-lugares.

beijo

Domeneck

Dirceu Villa disse...

A violência nunca é a solução. Mas pode ser uma boa metáfora. Hahahaha.

Grazie, caro mio. Bacio,

D.

Janaína A. S. disse...

(suspiro...fôlego)a poesia não precisa de escudo pra batalha, mas há os que precisariam de escudo ao se deparar com a poesia. Felizmente, ou infelizmente, eles não percebem o quanto estão apanhando...
Gostei desse eu lírico verborrágico.
um beijo
Jana

Dirceu Villa disse...

As coisas vão de um modo ainda difícil, mas estão melhorando.

SE o circuito literário acordar, perceberá que há muita coisa importante acontecendo.

Há coisas para se discutir. A lit. bras. é, atualmente, como a casa de um desleixado: nada se encontra no lugar certo.

Mas é boa casa. Precisa de uma faxina & uma arrumação. Ficará um brinco.

Hahahahaha.

Beijo,

D.