domingo, 4 de maio de 2008

1968 & O SÁBIO PROFESSOR PANGLOSS

Cartaz do período, com o velho De Gaulle vestido de sombra: "Seja jovem e cale-se".


Se você comprou a Folha de São Paulo hoje, teve a paciência (ou mesmo aquele ataque de tédio que te empurra a fazer besteira) e leu o caderno Mais!, viu que foi dedicado, é claro, a maio de 1968.

Nessa data uns estudantes de por volta de 20 anos fizeram um estardalhaço nas ruas de Paris, Praga & outras localidades menos bacanas, como sabeis. Tomaram universidades venerandas e caducas, colocaram a polícia patriarca em polvorosa. Houve a contracultura, o amor livre (não havia a Aids, lembra?) & houve ótimas idéias de frases desafiadoras. Etc.

E o que a Folha fez? Chamou um monte de professores universitários, confortavelmente assentados em suas posições de bem-pagas autoridades, que escreveram textos nostálgicos & insinuaram em geral que as gerações mais jovens, ah, essas aí são um bando de lerdos & conservas, em todos os sentidos.

Os mais jovens, por sua vez, provavelmente são aqueles que responderiam: "A geração de vocês queria mudar o mundo. Parabéns, vocês conseguiram", com aquelas cenas de desastres climáticos por todo o planeta. De ambas as partes, é tudo verdade.

Resumindo, para não esticar conversa de bêbado: redundou numa troca de elogios, igual àquela que a gente observa quando dois quadrúpedes se estranham num passeio, repondo em circulação o batidíssimo clichê do "conflito de gerações". Os marcos históricos são feitos por pessoas e, como elas, envelhecem.

Os jovens? Esses se calaram. Não há mais o que inventar. Ou, como um(a) jovem pergunta na entrevista com o Daniel Cohn-Bendit: "vamos nos revoltar contra o quê?".

Mas isso já é o sábio professor Pangloss falando com outro nome, não é mesmo? Eu acho que é.

2 comentários:

Victor Oliveira Mateus disse...

Dirceu, eu tinha feito um link com o seu blog, mas começava a pensar que ele tinha morrido... Felizmente que, se morreu, ressus-
citou... e bem! Com o Maio de 68!
Não concordo muito com essa ideia de que os que fizeram o Maio de 68, ou se assimilaram ou cruzaram os braços. Aqui o problema é bem mais complexo: aqui uma facção minúscu-
la (ínfima mesmo!) dessa gente está em cargos de poder (o presidente da U.E. -português- foi
de uma extrema esquerda radicalíssima), e, apesar de minúscula, atou os movimentos aos outros... mas olhe que os outros ainda rosnam! ~E não estão de braços cruzados, estão é atados por algo que é "enorme", portanto os que têm agora mais energia, se não sabem contra o que é que têm de lutar, que limpem os óculos. O "enorme" está bem à frente de todos e... é mesmo Enorme! Tem muito sítio para abocanhar! Um abraço.
www.adispersapalavra.blogspot.com

Dirceu Villa disse...

Victor, caríssimo,tudo bem?

As coisas andaram paradas por aqui, mesmo. Sou um trabalhador muito indisciplinado & preguiçoso.

Maio de 68 teve uma importância muito clara, de fato. O caderno especial do jornal Folha de S. Paulo é que me pareceu ter a atitude de vê-lo no passado, como coisa museológica. Os convidados para escrever sobre o assunto em geral não demonstraram muito empenho em analisar os desdobramentos daquele ano ainda hoje, e ficaram pela nostalgia, sugerindo que as novas gerações, bem, as novas gerações não sabem nada.

Daí me veio esse clichê do "conflito de gerações". E acho banal & pobre que o diálogo entre aqueles que têm (ou tiveram, algum dia) a idéia insana de transformar as coisas se desagregue num clichê, velho como o homem.

No fundo, é um mundo utilitarista & sem sonhos hoje pela colaboração inestimável entre gente de 60 anos com gente das idades intermediárias, recuando até os 20, vinte e poucos.

Mas são os jornais, sabe como é. O que passa, para eles, não é história, com suas contradições & ramificações no presente, é apenas um tipo ordinário de saudade. As folhas volantes, chamavam, porque é como Catulo uma vez pensou sobre as palavras amorosas: elas se escrevem na água rápida.

É para esquecer, é só uma vênia de passagem, é um aceno sem valor.

Haverá por aqui em breve um texto sobre poesia novíssima. Prestes a entrar. Aí sim.

Vai daqui um grande abraço,

D. (le diable jaune)