Antonio Veneziano (1543-1593), poeta italiano, nasceu em Monreale e estudou em colégios em Palermo e Roma. Conheceu Miguel de Cervantes (1547-1616) numa situação peculiar & deprimente: os dois haviam sido feitos prisioneiros, pelos árabes, na Argélia: Cervantes numa batalha, Veneziano numa viagem marítima. Ao que parece, dividiram uma cela no cárcere.
Teve uma vida desordenada, foi preso uma porção de vezes (morreu na prisão, em Palermo) & escreveu poemas muito interessantes no dialeto siciliano. O que traduzo abaixo, com o original no topo para a curiosidade infinita da leitora & do leitor, é a parte II de uma série de oitavas amorosas, chamada La Celia.
La Celia, II
Naxxi in Sardigna un’erba, anzi un venenu,
chi, cui ‘ndi gusta, di li risa mori;
né antitodi ci ponnu di Galenu,
né Esculapiu incantati palori.
Cuss’iu, senza rimediu terrenu,
unu su’ dintra e n’autru paru fori;
su’ tuttu mestu e mustrumi serenu:
la vucca ridi e chiangimi lu cori.
La Celia, II
Há na Sardenha uma erva, ou veneno:
quem prova, morre de rir sem demora;
nem antídoto atesta Galeno,
nem Esculápio oração redentora.
Assim eu, sem um remédio terreno,
por dentro sou um & outro por fora;
sou todo manso e me mostro sereno:
a boca ri, mas o peito, ele chora.
Veneziano está referindo um texto do geógrafo grego Pausânias (c. 115-180 a.C.) que conta “A História Mítica da Sardenha”, e de onde viria o nome da ilha italiana. Ele escreve sobre essa erva: “Exceto por uma planta, a ilha é livre de venenos. Essa erva mortal é como o aipo, e diz-se que quem quer que a coma, morre rindo. De onde Homero, e todos depois dele, chamam “sardônica” à risada doentia. A erva cresce principalmente junto a fontes, mas não transfere nada de seu veneno à água”.
No verso do belo mapa de 1570 que apresenta as ilhas mediterrâneas (este que ilustra o topo da nossa conversa), o notável cartógrafo nascido na Antuérpia, Abraham Ortelius (1527-1598), subscreve a lenda: “Sardenha: essa ilha era bem conhecida por causa de uma maravilhosa erva chamada Sardonica, que mata as pessoas enquanto permanecem rindo”.
Teve uma vida desordenada, foi preso uma porção de vezes (morreu na prisão, em Palermo) & escreveu poemas muito interessantes no dialeto siciliano. O que traduzo abaixo, com o original no topo para a curiosidade infinita da leitora & do leitor, é a parte II de uma série de oitavas amorosas, chamada La Celia.
La Celia, II
Naxxi in Sardigna un’erba, anzi un venenu,
chi, cui ‘ndi gusta, di li risa mori;
né antitodi ci ponnu di Galenu,
né Esculapiu incantati palori.
Cuss’iu, senza rimediu terrenu,
unu su’ dintra e n’autru paru fori;
su’ tuttu mestu e mustrumi serenu:
la vucca ridi e chiangimi lu cori.
La Celia, II
Há na Sardenha uma erva, ou veneno:
quem prova, morre de rir sem demora;
nem antídoto atesta Galeno,
nem Esculápio oração redentora.
Assim eu, sem um remédio terreno,
por dentro sou um & outro por fora;
sou todo manso e me mostro sereno:
a boca ri, mas o peito, ele chora.
Veneziano está referindo um texto do geógrafo grego Pausânias (c. 115-180 a.C.) que conta “A História Mítica da Sardenha”, e de onde viria o nome da ilha italiana. Ele escreve sobre essa erva: “Exceto por uma planta, a ilha é livre de venenos. Essa erva mortal é como o aipo, e diz-se que quem quer que a coma, morre rindo. De onde Homero, e todos depois dele, chamam “sardônica” à risada doentia. A erva cresce principalmente junto a fontes, mas não transfere nada de seu veneno à água”.
No verso do belo mapa de 1570 que apresenta as ilhas mediterrâneas (este que ilustra o topo da nossa conversa), o notável cartógrafo nascido na Antuérpia, Abraham Ortelius (1527-1598), subscreve a lenda: “Sardenha: essa ilha era bem conhecida por causa de uma maravilhosa erva chamada Sardonica, que mata as pessoas enquanto permanecem rindo”.
É curiosa a associação das idéias na mente humana, e isso tudo me lembrou do óxido nitroso, ou gás do riso, que Cesar Romero, vestido de Coringa, lançava em suas vítimas no seriado do Batman nos anos 60. O Coringa mais tarde teria idéias mais sinistras, puro humor negro, e o desfecho disso seria o efeito mortal da Sardonica em The Dark Knight, de Frank Miller. Ou neste desenho de Brian Bolland, que desenhou também a memorável graphic novel escrita por Alan Moore, The Killing Joke.
3 comentários:
cara, o poema me lembrou o bananère.
abbracci
dirceu, querido
a abertura da expo eh sexta, hoje, às 21 hrs.
te espero!
mandei um e-mail com endereço, etc.
beijos
por aqui continua frio, nublado e cinza na paulista.
e teu post no sempre rir, sempre rir.
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