Em 2004 eu terminei a primeira tradução completa (em versos para o português) e anotada do livro de poemas Lustra, de Ezra Pound, publicado originalmente em Londres, em 1916.
Lustra é o livro em que a poesia de Pound adquiriu os traços marcantes que apareceriam em sua obra daí em diante, como no monumental The Cantos, cuja estrutura já começava a surgir em poemas como "Provincia Deserta" ou "Near Perigord", de Lustra. Na edição nova-iorquina de 1917, da Alfred Knopf, constam, por exemplo, os três primeiros Cantos, mais tarde descartados ou reformados dentro do que chamava "a poem of some length".
Publiquei, da minha tradução completa, apenas três poemas na revista Ácaro, n. 3, de 2005: "TS’AI CHI’H", do núcleo das personae chinesas, anteriores a Cathay; "OS TRÊS POETAS", dos epigramas que estão por toda parte no livro; e "CANÇÃO ANTIGA", paródia de um antigo cânone inglês, chamada "intraduzível" por Mário Faustino.
Depois desse longo jejum (2 anos), e para lembrarmos mais um pouco da poesia de Pound, o Demônio Amarelo acolhe mais dois poemas, inéditos no Brasil, desse livro importante, charmoso & maligno: um deles é a apropriação e tradução de um poema de Charles D'Orléans, em que Pound quer flagrar o imagismo latente no poeta francês antigo
IMAGEM DE D’ORLEANS
Jovens nas ruas a cavalgar
No brilho da nova estação
Esporeiam sem razão,
Fazendo as montarias saltar.
E no passo em que vão
As patas ferradas a trotar
Riscam faíscas nas pedras do chão
No brilho da nova estação.
IMAGEM DE D’ORLEANS
Jovens nas ruas a cavalgar
No brilho da nova estação
Esporeiam sem razão,
Fazendo as montarias saltar.
E no passo em que vão
As patas ferradas a trotar
Riscam faíscas nas pedras do chão
No brilho da nova estação.
e o outro, um daqueles poemas curtos que tomavam parte da concepção do epigrama e dos poemas gnômicos gregos & adicionavam cenas modernas, em que a apresentação era tudo
SIMULACRA
Por que a dama de rosto eqüino e idade impronunciável
Desce Longacre recitando Swinburne a si mesma, surdamente?
Por que a criancinha no falso casaco de pele com manchas brancas
Engatinha na sarjeta muito preta sob a barraca de uvas?
Por que a jovem bela pra valer se aproxima de mim em
Sackville Street
Sem se deter pela idade manifesta dos meus trapos?
Por que a dama de rosto eqüino e idade impronunciável
Desce Longacre recitando Swinburne a si mesma, surdamente?
Por que a criancinha no falso casaco de pele com manchas brancas
Engatinha na sarjeta muito preta sob a barraca de uvas?
Por que a jovem bela pra valer se aproxima de mim em
Sackville Street
Sem se deter pela idade manifesta dos meus trapos?
4 comentários:
villão, meu caro, fiquei com vontade de ver os originais. posta aí pra gente, vai.
abrações
Paulo, caro mio!
é a questão dos direitos autorais. Ainda não estão em domínio público. Mas posso te mandar por e-mail, claro.
Abrazo!
D.
e aí, bróder, blza?
então, qdo puder, me manda, ok?
abbracci
olá, coloca os originais pra gente ver.
pois eu ando estudando a vida dele e suas obras vê tb se coloca mais.
abraços e beijos
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