sexta-feira, 21 de junho de 2013

MARCELO GRASSMANN (1925-2013)


Não tenho muito o que dizer diante da notícia triste. Escrevi pequenos artigos  sobre a obra de Grassmann, verdadeiro & pouco reconhecido tesouro nacional, & o admirava imensamente. Tive a sorte de, anos atrás, assistir a uma aula sua de gravura no Museu Lasar Segall. É mais uma perda inestimável neste ano conturbado de 2013.

Para o novo livro escrevi um poema que não apenas cristalizou meu fascínio pelos meios técnicos extraordinários da fatura de sua obra ímpar, mas também buscou assinalar a luta que Grassmann promovia (era um de seus motivos recorrentes) na obra com a idéia de morte & finitude: a beleza hierática, os encouraçados, as criaturas de pesadelo & de sátira, as imagens repetidas.

Vai aqui, portanto, o poema onde gravei minhas impressões vivas do convívio com sua obra & do modo como incorporou em sua própria arte a de outros que tinham seu respeito & que o haviam influenciado. É, agora, dedicado à sua memória, como antes o teria oferecido ao artista impecável.


o triunfo de marcelo grassmann

qualquer carapaça: cara e pele.
olhar impassível ou cobiça se concebem,
temperados:
                       aço em fogo, duro em suave.
lanças, aves, monstros que a bíblia
deu em sonhos aos flamengos,
retornam bêbados com asas
em rua escura à meia-luz, livres
                      da mentira ao meio-dia.
metal se manipula em mineral,
em mãos, em massa mortal mas rígida,
mas matéria fina e maleável
                      onde a morte corta cabeças, conta cadáveres;
ela também morre, agora, presa em patas
de galinhas, na donzela transparente. a morte
imóvel, presa de enigma, 
                      se mistura em tinta, sua armadilha.

3 comentários:

Érico Nogueira disse...

Quando vi a notícia vim logo ao teu blogue -- e pumba, topei logo com texto e poema. Lembrei-me do dia em que vimos uma mostra dele na Paulista. Grande perda, realmente... Abraço. E.

MARCELO disse...

Olá Dirceu Villa

Estou preparando uma homenagem ao Marcello Grassmann em meu blog Labirintos do Ser. Gostaria de transcrever seu poema, com a devida referência à fonte, na postagem que publicarei em breve.

Abraço.

Dirceu Villa disse...

Olá, Marcelo.

Sim, pode transcrever o poema.

Abraço,

D.