sábado, 22 de janeiro de 2011

o gerente de gravata vermelha

Detalhe de Le Fils de L'Homme (1964), de René Magritte


o gerente de gravata vermelha
adentra ao meiodia
as dependências do restaurante
no cj. nacional.

o gerente de gravata vermelha
veste um risca-de-giz cinza frio,
cabelos laqueados cosa nostra
e um ar neutro, impecável.

as garotas conversando a seu lado
riem com lábios suculentos,
mas o jovem gerente de gravata vermelha
é um asceta do almoço:

separa com cuidado a carne
do osso : e sob os olhos boiando
nos globos brancos
mantém uma indiferença de metal.

magro, de cartaz ermenegildo zegna,
o polido gerente de gravata vermelha
é um estóico da mastigação.
comenta algo, sucinto e de lado,

e observa as mãos guiando os garfos.
o guardanapo cesura o labor
das mandíbulas; nenhum ardor
sublinha seu sorriso clerical.

a gravata vermelha, única exclamação,
pendurada no fino pescoço,
o enforca : e dizem que os enforcados
têm uma ereção.

5 comentários:

Rafael Daud disse...

Engenhosíssimo, mon amis!

Julia Filardi disse...

a(dor)no rubro



preferível seria como no 'Império dos Sentidos',rs

Fabiana disse...

Lembrei do texto "A gravata", de Caio Fernando Abreu.

ana rüsche disse...

redondinho!
adorei, conheço absolutamente a cena. não pintaria melhor.
beijo!

Duda disse...

redondinho mesmo, vai direto no ponto.
passando aqui só pra dizer que esse me agradou bastante
abraços!