sábado, 22 de janeiro de 2011
o gerente de gravata vermelha
o gerente de gravata vermelha
adentra ao meiodia
as dependências do restaurante
no cj. nacional.
o gerente de gravata vermelha
veste um risca-de-giz cinza frio,
cabelos laqueados cosa nostra
e um ar neutro, impecável.
as garotas conversando a seu lado
riem com lábios suculentos,
mas o jovem gerente de gravata vermelha
é um asceta do almoço:
separa com cuidado a carne
do osso : e sob os olhos boiando
nos globos brancos
mantém uma indiferença de metal.
magro, de cartaz ermenegildo zegna,
o polido gerente de gravata vermelha
é um estóico da mastigação.
comenta algo, sucinto e de lado,
e observa as mãos guiando os garfos.
o guardanapo cesura o labor
das mandíbulas; nenhum ardor
sublinha seu sorriso clerical.
a gravata vermelha, única exclamação,
pendurada no fino pescoço,
o enforca : e dizem que os enforcados
têm uma ereção.
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5 comentários:
Engenhosíssimo, mon amis!
a(dor)no rubro
preferível seria como no 'Império dos Sentidos',rs
Lembrei do texto "A gravata", de Caio Fernando Abreu.
redondinho!
adorei, conheço absolutamente a cena. não pintaria melhor.
beijo!
redondinho mesmo, vai direto no ponto.
passando aqui só pra dizer que esse me agradou bastante
abraços!
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