Mas Donizete Galvão vai lançar livro novo em breve, a Bienal do Livro bate recordes neste país que não quer nem sabe ler, foi lançado o Almanaque Lobisomem, & a revista Épouca em desespero de causa lançou um daqueles dossiês “Dilma: quem te viu, quem te vê”, etc.
A baderna usual, q põe uma pessoa pensando sobre o peso relativo q a realidade (ou aquilo que um garoto de dez anos aprende a chamar “realidade” abstratamente) deveria desempenhar na vida comum do honesto & modesto cidadão brasileño.
Q pobre a nossa definição de realidade, a coincidir com debilóides vespertinos na TV. Um tempo sem filosofia, o nosso. O osso, o nosso.
Arredondando o assunto, escrevo algumas linhas a partir deste meu bunker florido, bibliotecado, com um computador respirando soturnamente na escuridão.
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“O q isso tem a ver, pazzo?”
Não acho possível algo de qualidade aparecer com freqüência semanal, ou quinzenal. Freqüência diária é simplesmente um modo humorístico muito espirituoso de apresentar o assunto para as pessoas educadas rirem de se mijar. Não é possível. Artisticamente falando, ao menos, não.
(Excluímos as notáveis exceções q podem ser exemplificadas com Rainer Maria Rilke escrevendo pilhas de poemas em 1923, se bem me lembro, tomado de um espírito de época cheio de belas frases evocativas & úmidas apóstrofes românticas).
Nós vivemos um período muito ansioso, um período de roedores de unha.
Mal as pessoas começaram a pensar numa coisa (a gente supõe q às vezes o façam) vem outra em cima, attention span de porcentagem desanimadora.
Aquele velho chato, rancoroso, vadio, solitário & misógino do Schopenhauer tinha razão em ao menos 1 coisa, q vem a ser: “Para esquecer um livro, nada melhor do q ler outro em seguida”. (Pra q ninguém diga futuramente q só falei mal do Schopenhauer, q, aliás, tem uma boa dialética erística disponível no mercado).
Ou se pode comprar um monte de 15 livros para tapar uns buracos na parede, & não ler nenhum, o q chega a dar melhor resultado & faz bonito nos números de pagantes de uma bienal do livro. Ou comprar duas dezenas de livros q não têm 1 milímetro cúbico da dignidade da árvore sacrificialmente cortada (ainda o fazem ou é tudo de plástico já?) para editá-lo.
Esses a pessoa pode ler à vontade: não aprenderá nada com eles, não correrá o risco de vir a ser outra após a leitura.
Anyway.
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Donizete Galvão lança novo livro de poemas no dia 26 deste mês frio de agosto em SP, & convida todas as simpáticas pessoas ao lançamento, naturalmente, q vai acontecer na Livraria da Vila. Q vila? Nenhuma, a da Al. Lorena, dear ones.
D. Galvão é um dos melhores poetas brasileiros em atividade. Seu escopo de simplicidade não deve enganar o bom leitor, q deve ler textos pelo q são.
D. Galvão nunca se meteu a bancar o bacana da moda, ou a escrever besteiras estilosas & vazias como alguns pastéis de feira.
Sua dicção é discreta, a do registro da atenção detida.
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"Oh ... meu Deus, não, não, você não entendeu... eu juro q não sou um crítico literáro". Too late, buddy.
Publicaram uma entrevista comigo (segue abaixo uma prévia), alguns poemas meus inéditos q se seguem ao Icterofagia, um artigo q escrevi sobre o cinema de Lars von Trier & + um ensaio & tradução q fiz de Peire Vidal, trovador-lobo.
Diversão garantida & seu dinheiro nada tem a ver com isso: ponho abaixo a lista de outros ilustres escritores presentes no almanacão de férias para ustedes, & o link pra baixar a coisa no estilo guerrilla — ora, direis, gratuitamente.
Lobisomem: Qual a função do uso, em seus poemas, de extenso vocabulário em latim, francês, alemão, italiano, grego etc. Qual o motivo do português brasileiro nunca ser suficiente? Teremos sempre que usar o Google para ler um poema de sua autoria e entender as citações?
Dirceu Villa: O português não é suficiente porque sou lingüisticamente promíscuo. Tentei clínicas de reabilitação, mas foi tudo inútil.
Não creio que diria a palavra “extenso” para o uso de língua estrangeira nos meus poemas, e isso pode ser uma afirmação até estatística: é um emprego ocasional, que obviamente tem a ver com a função que a coisa desempenha lá.
Até o século XVIII, quando o Ocidente partilhava inteiro um mesmo princípio de composição poética, um poeta como Gregório de Matos podia emular retoricamente Góngora porque isso seria percebido (às vezes, os espíritos de porco o acusavam de roubo, porque ainda não pensavam em plágio) como um engenho, uma qualidade que punha em circulação a cultura poética.
Incorporar uma referência hoje funciona de maneira completamente diferente, e faço isso de modos muito diversos: escrevo o poema discretamente na mesma forma, mas com as minhas palavras, uso o mesmo ritmo, emprego uma palavra que remete a um poema ou poeta específico, uma epígrafe, ou mesmo, como você assinala, enfio trechos em língua original no meio. E de outros modos, cuja lista exaustiva nos deixaria exaustos.
Cada um desses modos tem um sentido pontual para cada poema, e ler isso a rodo não funciona. Muitas vezes distorço o significado original, ou modifico algumas palavras.
Às vezes, porque é mais dramático acertar o leitor direto na fonte lingüística de um conceito, ou porque é preciso deslocar seu ato de leitura com a intromissão da língua estranha; outras, porque não seria possível conseguir o mesmo efeito simplesmente traduzindo, ou fazendo uma paráfrase, como por exemplo, das palavras musicais em latim no relevo “Cantoria”, de Luca della Robbia, em Florença, que aparecem em “Multis per maribus”, um poema inteiro de referências greco-latinas, e mediterrâneas, que se abriram a partir de uma observação muito direta da vida e que têm seu sentido nela. Etc.
E isso é também o sentido desses poemas: perceber que muitas vezes aquilo que pensamos com distanciamento meramente museológico ou geográfico é, na verdade, vida tão palpitante e presente quanto algo muito intenso percebido em experiência quotidiana.
O que não há é gente para dar por isso, como diria o Fernando Pessoa. E, para ser muito franco, esse modo de registro da referência que você comenta nos meus poemas é apenas mais explícito, mas se se quer ler poesia, é preciso estar atento: não se lê Pessoa, Drummond, Sá de Miranda, nem qualquer outro grande poeta se não se percebe o uso que fazem de suas referências.
Pessoa faz um heterônimo inteiro responder passo a passo às Odes de Horácio, e se você não lê isso, não leu os poemas; Drummond escreve a “Máquina do Mundo” com múltiplas remissões de técnica do verso a Dante, à tradição italiana, a Camões, usa imitação de ablativo absoluto do latim, usa a escala da magia natural para o mundo sublunar (e é apenas 1 dos numerosos poemas dele a integrar um poderoso esquema de referências articuladas para um sentido); Sá de Miranda propõe diversos enigmas de sentido que vão de notações astronômicas a antigas cartas de baralho milanesas, antecessoras do tarô. Se você não percebe, não desfrutou tudo o que o poema oferece.
Grandes poetas, mesmo quando parecem muito simples e pedestres, são complicados. Ler bem é ler essas sutilezas de dicção, essas aproximações técnicas, o sentido da orquestração de múltiplas camadas de sentido e referência. Senão é como ler propaganda de banco num cartaz ordinário, é um trapo imprestável de linguagem, informação oca e sem vida.
Por isso não adianta usar o google para ler os poemas. O google é um instrumento útil, mas preguiçoso e pobre, da chamada “era da informação”, que baniu o conhecimento (a gente supõe que se entenda a diferença entre uma coisa e outra). E, muitas vezes, infelizmente para vocês, leitores, desfiguro as citações além do que se pode achar com proveito explicativo no google.
Almanaque Lobisomem: você pega o seu aqui:
http://rapidshare.com/files/412611585/lobisomem.pdf.html
ADBUSTERS + ALBERTO MARTINS + ALFRED DÖBLIN + ANDRÉ FERNANDES + ANDRÉA CATRÓPA + ANNE SEXTON + ARNALDO ANTUNES + AVELINO DE ARAUJO + BANKSY + CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE + CARLOS MARIGHELLA + CHRISTIAN MORGENSTERN + CORINGA + DIEGO DE SOUSA + DIEGO VINHAS + DINIZ GONÇALVES JÚNIOR + DIRCEU VILLA + EDUARDO GALEANO + E.E. CUMMINGS + ÉRICA ZÍNGANO + FABIANO CALIXTO + FABIO CAMARNEIRO + FABRÍCIO CORSALETTI + FABRÍCIO MARQUES + FERNANDA SERRA AZUL + FLÁVIO RODRIGO PENTEADO + FLORA ASSUMPÇÃO + GABRIEL PEDROSA + HEINRICH BÖLL + HELIO NERI + HERIBERTO YÉPEZ + HERSCHEL PINKUS YERUCHAM KRUSTOFSKI + JEAN STAROBINSKI + JOHN ASHBERY + JOHN ZERZAN + JIM MORRISON + JULIANA AMATO + JULIANA MARKS + JÚLIO BARROSO + KAREN REVISITED + LAURA WITTNER + LAURIE ANDERSON + LEANDRO RODRIGUES + LEDUSHA + LEONARDO MARTINELLI + LETÍCIA COSTA + LILIAN AQUINO + MARCELLO VITORINO + MARCELO FERREIRA DE OLIVEIRA + MARCELO MONTENEGRO + MARCELO SAHEA + MÁRCIO-ANDRÉ + MARIANO MAROVATTO + MARÍLIA GARCIA + MÁRIO BORTOLOTTO + MARIO SAGAYAMA + MARCO BUTI + NICK DRAKE + NICOLAS BEHR + NÍCOLLAS RANIERI + PABLO ORTELLADO + PAULO RODRIGUES + PAULO STOCKER + PATRÍCIA AUGUSTA CORRÊA + PEDRO GALÉ + PRISCILA MANHÃES + QORPO-SANTO + RENAN NUERNBERGER + R. PONTS + RICARDO DOMENECK + RICARDO SILVEIRA + ROBERTO BOLAÑO + RODRIGO LOBO DAMASCENO + ROGÉRIO SGANZERLA + SAPATEIRO SILVA + SÉRGIO RAIMONDI + SYLVIA BEIRUTE + THAIS MONTEIRO + THE BEATLES + TIAGO PINHEIRO + TOM VIOLENCE + TOM WAITS + WILLIAM SHAKESPEARE + ZHÔ BERTHOLINI
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A revista Errática publicou oito poemas de Jules Laforgue, traduzidos por André Vallias. Laforgue foi muito pouco traduzido, NÃO OBSTANTE o fato de q é um poeta fundamental.
Se v. lê apenas os brasileiros, é bom lembrar q Manú Bandeira & Carlitos Drummond aprenderam uma porção de truques com ele. Augusto de Campos, Nelson Ascher & Régis Bonvicino já o traduziram antes.
Um escritor ou poeta pouco traduzido revela q o país q tão pouco o traduziu ainda não foi capaz de incorporá-lo.
É o q significa.
Pense agora no verdadeiro ABISMO de autores fundamentais ainda não traduzidos no Brasil & v. terá a dimensão do desastre na educação do país. Educação? O quê? (o cara ou a garota não ouvem nada na multidão da Bienal do (sic.) Livro).
Então vamos dar uma espiada séria nessas oito gentilezas de Vallias, shall we?
http://www.erratica.com.br/
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Caixa de livros belos & bons (kalós kai agathós) do selo Demônio Negro da Annablume. Infra:
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Fui perguntar ao Maquiavel o q ele achou de ser prefaciado pelo ex-pres. FHC. Foi durante a visita do autor italiano à Bienal do Livro, muito rápido, até porque, se bem me lembro, a Monica Iozzi do CQC disputava a atenção do cara comigo. O finíssimo finório me disse o seguinte:
DA: Niccolò caro, buon giorno, scusa: che cosa... che cosa tu pensi della introduzione che ha scritto FHC per il tuo libro del Principe?
NM: Ma dai, ho scritto sopra uomini come Caesar Borgia e Lorenzo de’ Medici. E per me hanno adesso fatto questa porca miseria: è come Bozo scrivendo un prefazione per Woody Allen!
DA: È proprio una sfortuna. Grazie mille & una buona Biennale per te.
NM: Dove si può mangiare una sogliola alla fiorentina qui? Lo sai?
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A propaganda política te persegue em tudo que é canto: "Você precisa votar em CALIGARI".
Política: sem comentários. Basta dizer q o circo já está visitando a cidade com sua feira de aberrações com alto-falante.
A gente podia ter uma arena, ouvir um morituri te salutant desses imbecis de Brasília & arredores, lá entre os leões. Isso sim seria circo para nosso pouco pão. Pão para os leões, essa seria a minha plataforma.
5 comentários:
villa! meu véi, seus txts tão cada vez melhores! circo político, circo dos livros... hahahaha. muito bom. aplaudo daqui. um grande abraço, calixtófanes
Aê! O cara sabe retornar c/ estilo! Hahaha! Os poetas deviam mesmo voltar ao ópio,rs... hj em dia é td (excessivamente) comportado...
Quando tiver oportunidade irei até sampa, pra aproveitar um tb, rs.
Grande almanacão, gracias!
Abçs.
em dias de febre y dores ai-deus-me-leva, ouvindo a voz do morto, do caê
http://www.youtube.com/watch?v=_xT_OQh2-qw&feature=player_embedded
que vem bem ao caso (mesmo que eu não cante agora)y lambendo co'a testa teu pão e manteiga.
mandei e-mail y deixo beijinhos de má-iara pinky-cérebro.
ó demônio
não partilho de tuas teorias
por isso seremos amigos
ó capeta
chupa logo essa teta
maldito amarelo
no pântano batemos com o martelo
na cabeça
dos pregos soltos
por aí
Oi Dirceu,
sou Leandro OLiveira e edito o site ocidentalismo.org
Queria bater um papo. Me manda teu email? Abração.
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