segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Hardy Har Har

"Oh, dia, oh, céus, oh, azar, Lippy: isso não vai dar certo"


Recebo semanalmente, por e-mail, a simpática divulgação de revistas & artigos sobre literatura, com textos que usam com freqüência o tom de desastre, do "hoje não há mais os grandes poetas" & variações do gênero "ah, no meu tempo".

É um gênero exercido por cricríticos (talvez se sentindo subitamente cheios de importância, já que grandes festivais de literatura chamam sobretudo cricríticos para falar abobrinhas sobre o assunto) ou poetas de quinta categoria que supõem que, declarando uma incompetência geral, se sentirão melhor acompanhados.

E então a poesia está "em crise"; os poetas "não surpreendem"; a poesia brasileira hoje é um "lugar-comum": a velha conversa.

Como a coisa é semanal, comecei a perceber que, mais do que uma evidência em textos para essas pessoas, o negócio se tornou uma espécie de credo, que é tanto mais verdadeiro quanto mais repetido (& elas devem ter colares de contas em que repassam essas frases diariamente).

Repetir que tudo está perdido é um método interessante, porque a crítica é um dos poucos meios em que a rabugem é vista como qualidade altíssima.

E é um tipo de mesquinhez que parece elevada, também, porque implica uma escolha: a de falar sobretudo do que não aprecia. É mesquinho porque faz da incapacidade de apreciar o seu principal argumento, & parece elevado porque soa a grandes exigências.

Mas é fumaça nos olhos: não é uma questão de apreciar a arte & querer o melhor. É usar esse argumento de fundo nobre para generalizar sobre o que, na verdade, se desconhece.

É óbvio que se critica o que não presta (& o que não presta é farto, se se quiser remexer em lixo), porque ninguém sensato postula uma indiferenciação de vale tudo. Mas o constante foco no que não presta, amplificado em generalidades, é uma prática velha & comprovadamente inútil.

Sobretudo porque, passada essa fumaça ordinária, os grandes autores de todo & qualquer período saem ilesos, & ri-se futuramente desses monotemáticos repetidores, que teriam emprego melhor na coluna de necrológios de qualquer jornal diário.

Ou num desenho animado da Hanna-Barbera, sessão nostalgia.

8 comentários:

Érico Nogueira disse...

Boa, Dirceu. Subscrevo tudo. Abração. E.

Dirceu Villa disse...

Hahahahaha, grazie, Érico!

"Marasmo" é outra palavra que usam. São iguais ao Hardy.

Eles se lamuriam demais. Deviam ler um pouco antes de se lamuriar. Hahahahaha.

Fora que há uns poetas que dizem que a poesia brasileira, a rodo, vai mal.

Ué, pára de publicar, então. OU não são brasileiros? Hahahaha.

Oh boy. Go figure.

Abrazo, mon ami,

D.

paulo de toledo disse...

maníssimo, tem muita gente chata por aí, mesmo.
o negócio é a gente seguir apresentando ao "povo" aquilo q a gente acha bacana e deixar os lastimosos lastimarem.

abbracci,

paulo

Dirceu Villa disse...

Muito bons os poemas no teu blog, Paulo, caro mio. Tem sido um prazer passar por lá.

Um grande abrazo,

D.

Priscila Manhães disse...

Dirceu, aos "cricríticos" uma risadinha no melhor estilo Mumbly, do desenho da Hanna-Barbera.

Um beijo.

Dirceu Villa disse...

Hahaha.

Eles devem estar com algum nervo exposto, Priscila, porque para dizer que não há poetas (inserir qualificativos cheios de mérito), de duas, uma: ou andam muy tensos, ou lendo muy pouco.

Beijo,

D.

Anônimo disse...

Dirceu,

Você podeira, por favor, nomear alguns desses poetas desconhecidos pela crítica apocalíptica, representantes da qualidade da poesia barsileira contemporânea? Porque, sinceramente, até o dado momento eu estou no time do Hardy Har Har.

Com atenção,
Laura Pfau,
laurapfau@aol.com

Dirceu Villa disse...

Laura, caríssima, tudo bem?

Além deste excelente poeta brasileiro que escreve esta resposta, todos os nomes que mencionei no escolhas afectivas, site levado por Renato Mazzini e Aníbal Cristobo, escreveram poemas muito bons (a despeito de gosto, que é coisa muy pessoal & inquantificável, como sabeis). Escrevi sobre poetas brasileiros também na Officina Perniciosa, minha página na revista virtual Germina Literatura.

O escolhasafectivas acha-se aqui:

http://asescolhasafectivas.blogspot.com/2006/09/dirceu-villa-mencionado-por-ricardo.html

Não é uma lista exaustiva, de modo algum, & não faço listas exaustivas porque me exaurem, & porque simplesmente não seria justo. Mas há também os nomes de Ricardo Domeneck, o próprio Érico Nogueira que você vê acima, Marcelo Sahea, Ricardo Aleixo, Fabiana Faleiros, Fabiano Calixto, Pádua Fernandes, Eucanaã Ferraz, Juliana Krapp, Mariano Marovatto, Rodrigo Lobo Damasceno, Ismair Tirelli Neto, Marcos Siscar, Eduardo Sterzi, Fábio Aristimunho Vargas, Leonardo Fróes, etc.

Alguns desses são tradutores & ensaístas importantes, também. E estou longe de conhecer tudo, naturalmente. Esses são alguns dos que, por um motivo ou outro, li percebendo qualidades, e seria mero mau humor não reconhecer. E são muitíssimo diferentes uns dos outros.

Alguém poderá dizer que não gosta disso ou daquilo, poderá impugnar este ou aquele poema, mas negligenciar todos esses autores a rodo como se nada de bom existisse é ser apenas o velho Hardy.

E o Hardy, como nós sabemos, sempre acha que tudo está mal, no matter what. Buenas, daí é preguiça, ou aquela atitude coroca de in illo tempore.

Seria útil, também, dar sempre uma espiada em revistas virtuais que produzem amostragens boas, como a Modo de Usar, a Sibila, a Zunái, os Cronópios, entre outras. E perceba: em geral essas revistas têm, cada uma, seu ângulo, mas é mais esperto não aderir a campos de batalha: comparar, avaliar o que dizem, quem propõem, ler com curiosidade genuína.

A única coisa efetivamente equivocada é adotar o lema de lojinha de bairro malandra em desfalque: “tinha, mas acabou”. Hahahaha.

Beijo, & boa leitura,

D.