sexta-feira, 24 de abril de 2020

UM POEMA DE ICTEROFAGIA (2008) A LEMBRAR AGORA

Quadragésimo-sétimo mês,
Ano V do Golpe,
Ano III da Era Fascista



Os Cientistas
Doubt truth to be a liar

Há alguma corrosão no início
— faz parte de seu ofício;
distribuem, como os padres,
a profilaxia, que não é santa,
mas igualmente certa.

Um silêncio de murmúrio
recobre máquinas e ataduras;
aplicam por critério antecedente
prescrições e vacinas em quem
um dia vai ficar doente.

Como na Lei,
há a vantagem do microscópio,
que é por onde entra o miópico
olho da civilização: macacos gritam,
flores abrem, deuses mortos
cospem sangue verde em gargalhada.

“Nós temos a resposta para o Nada.”



terça-feira, 31 de março de 2020

UM VÍRUS TOTALITÁRIO

Quadragésimo-sexto mês,
Ano V do Golpe,
Ano III da Era Fascista


Condenados à liberdade


A atriz canadense Evangeline Lilly, famosa por Lost & por interpretar a Vespa nos filmes da Marvel, conseguiu uma polêmica mundial ao desafiar, de modo insensato, o auto-isolamento a que a pandemia do COVID-19 obrigou as pessoas.

Disse que preferia liberdade a segurança, envolveu na postagem filhos & ela mesma.

Também prefiro liberdade a segurança, mas isso obviamente tem limites: liberdade não é um salvo-conduto para se fazer o que bem entender; ser livre é uma responsabilidade, & não precisamos de Sartre para sabê-lo, je pense.

Não obstante a flagrante besteira perigosa  —  pela qual ela, ou seu representante de relações públicas, terá decidido por bem desculpar-se  —, disse também outra coisa, &, essa sim, chamou a minha atenção, sobretudo por vir de gente de Hollywood.

Foi o seguinte: "Onde estamos já me cheira demais a estado de sítio". E "vamos manter um olho atento em nossos líderes para garantir que não usem o momento para surrupiar liberdades e agarrar mais poder".

Ela não está errada, aí.


Um vírus totalitário 

Eu dizia a uma amiga que o COVID-19 é um vírus totalitário: ele auxilia a vigilância total, reduz os já reduzidíssimos direitos, propõe toque de recolher, cancelamento de relações empáticas; transfere as relações humanas ainda mais ao mundo virtual & ainda promove a dizimação dos "inúteis", o que muitos bilionários chamam a "superpopulação", segundo eles, o maior problema que o planeta enfrenta.

A nova cepa de coronavírus, inicialmente descrita como de baixa letalidade, escondia em si um potencial de contágio & mutação que terá surprendido a maior parte das pessoas.

Estou razoavelmente certo de que não surpreendeu um grupo pequeno.

O senador Richard Burr, republicano, da parte da inteligência do Senado estadunidense, teve vazada uma fala sua a gente grande dos negócios dizendo, muito antes do surto se tornar algo pavoroso, que aquele vírus seria muito pior do que imaginavam.

Ele vendeu suas ações na Bolsa com timing excelente.

Jeff Bezos, da Amazon, fez o mesmo bem antes da coisa ficar desastrosa; muitos CEOs das maiores corporações mostraram ter o mesmo timing convenientemente premonitório, & dezenas deles deixaram as diretorias de suas empresas.




Mas outros tiveram tirocínios sibilescos ainda mais espantosos: a Fundação Bill & Melinda Gates, em outubro de 2019, foi uma das promotoras do Event 201, um teatrinho oportuno de cenários de pandemia.

Chamaram gente da  indústria farmacêutica, de mídia, de análises estratégicas, de central de inteligência, comissão para assuntos militares & havia listado lá até mesmo um cavalheiro com 30 anos de experiência em relações públicas para questões delicadas de seus clientes.

Lá no currículo dele se lê que o faz para "desenvolver, promover e proteger suas marcas e reputações". Yeah!

Curiosamente, foi também em outubro de 2019 que aconteceu, em Wuhan, na China, a Olimpíada Militar, com delegações de muitos países por lá, incluindo os EUA. Outro ponto inicial do vírus foi o Irã, como sabeis.




"Tempo de guerra": palavras perigosas a esmo


Voltemos agora para o nosso momento de auto-isolamento & quarentenas pandêmicas.

Acaba de sair a notícia de que Viktor Orbán, o presidente de extrema-direita da Hungria, recebeu no seu colo o seguinte presente do Parlamento: estado de emergência sem prazo determinado, dando-lhe o poder de governar por decreto.

Nem Pôncio Pilatos lavou melhor as mãos com sangue do que esse ilustre Parlamento.

O Chile, de Piñera, que se viu acossado por manifestações mastodônticas, tem agora seu toque de recolher. 

Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, declarou outro dia que precisam agir como qualquer outro governo em "tempo de guerra", significando medidas de controle da população, como se acha em The Guardian, "sem precedentes desde a Segunda Guerra".

A expressão "estado de sítio" tem sido jogada por todo lado por aqui no Brasil. 

A restrição das liberdades civis não é uma novidade para o admirável mundo novo deste século: começou quando a moda era o, ah-ham, "terrorismo", de que milagrosamente não se ouviu falar mais desde que governos de extrema-direita chegaram ao poder.

A implacável ameaça sem rosto simplesmente desapareceu no ar; sensação, me parece, de missão cumprida.

A restrição ganhou novo fôlego com os golpes de Estado, as fraudes eleitorais, a polícia política que fez gente se exilar, que matou algumas pessoas-chave, prendeu outras & que pareceu (para os desavisados) na verdade muito jurídica & "democrática".

Há nomes: Edward Snowden, exilado; Jean Wyllys, exilado; Lula, preso (solto, mas não livre); Julian Assange, preso; Chelsea Manning, presa (ambos com requintes de crueldade, postos em solitárias, com, sutil ou nem tanto, tortura psicológica); Marielle Franco, assassinada. 

Etc.

O COVID-19 não precisa ter sido cuidadosamente gestado, como me parece que foi: sua disseminação tem sido abraçada pelos governos já totalitários do mundo como uma maravilhosa oportunidade.

(Mas também avisei: ao menos desde novembro de 2016, aqui, incluindo a pandemia:
http://odemonioamarelo.blogspot.com/2016/11/15-nos-de-um-plano-lento-mas-seguro.html)




A crise de desinformação, já estimulada antes, agora está em seu auge. Steve Bannon merece, desde 2016 ao menos, o nosso respeito como grande estrategista. Não foi ele quem inventou a desinformação (na Rússia ela corria solta, já), mas ele foi seu Shakespeare: deu à desinformação, às contradições oficiais, seu desenho engenhosamente fanático & inexplicável, que tem deixado perplexos os pobres jornalistas deste mundo.

Sua regra é que adotem todas as posições, mesmo opostas, simultaneamente, & aproveitem a confusão para agarrar mais um alqueire de poder totalitário.

Por isso Trump, Bolsonaro & todo o time de figuras alegóricas (sob as quais agem na verdadeira governança militares & corporações), adotam o estilo imbecil & perdido: despistam quem olha para eles, como no mais velho truque de mágico. Bolsonaro tornou esse ponto muito didático ao levar um mau comediante, que o imita de modo genuflexório, para substitui-lo em conversa com jornalistas. 

É como se dissesse: "trata-se de uma farsa, vocês não veem?". Aparentemente, não.



A China já pratica vigilância absoluta, com sistema de crédito social. Parte disso que vemos com o vírus totalitário é também transportar ainda mais das relações entre as pessoas para o mundo virtual, & entregar o controle para o poder totalitário.

Salários abaixo do mínimo apenas para sobrevivência, & alguém controlando se você merece ou não; se você deve ou não se mover; se deve ou não receber socorro, quando necessário; se deve ou não falar. 

Capitalistas sabiam que o capitalismo morria; ao invés de deixar morrer de morte morrida, o fazem morrer de morte matada, lição histórica do privilégio sempre que precisa aplicar o plus ça change, plus c'est la même chose, para que se mantenha no topo.

Lampedusa o demonstra em Il gattopardo (O leopardo, 1958). Andrej Wajda o demonstra com Danton (O processo da Revolução, 1983). 

Privilégio: vende ações logo antes de apertar o botão do Armageddon do sistema.

O COVID-19, tal como é, fazendo milhares de vítimas no mundo todo, & avançando apenas com controle limitado de sua devastadora proliferação, se tornou o grande momento para esses governos fazerem o que a sra. Lilly disse sem embaraço na primeira vez em que se manifestou sobre o assunto.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

DEMOCRACIA EM VERTIGEM, & O TIPO DO COVARDE

Quadragésimo-quinto mês,
Ano V do Golpe
Ano III da Era Fascista

Petra Costa já ganhou; não o Oscar, mas a batalha contra
o horror brasileiro. E elegantemente.


Petra Costa teve um gesto de imensa coragem: presenciando o golpe de Estado de 2016, ativou sua arte com sua câmera, documentarista que é, para registrar o momento histórico.

Não houve muito mais gente que tivesse essa coragem. E, é preciso dizer, nem esse talento, porque é um filme de evidente talento.

A maioria, porque já havia embarcado no fascismo; um pequeno grupo, porque achava que era só o PT desmoronando, & que já ia tarde (mas a democracia estava indo junto); um grupo ainda menor não fez nada por receio de sofrer represálias, que sem dúvida alguma viriam, & vieram.

Mas ressalto um grupo interessante, meio sombrio porque nunca se põe luz ali: o grupo dos covardes.

O que defino como covarde?

O covarde do golpe é o tipo que vive às custas de promotores do golpe; que tenta, no entanto, parecer mais civilizado do que a barbárie que apóia, para não perder status de gente civilizada, mas, ao mesmo tempo, tem o dever de defender os interesses de seus empregadores, que são os seus também. Numa palavra: privilégio.

O tipo exemplar do que defino acima é Bial.

Sempre foi assim. Quer ser chique, meio folgadamente cronista, agora meio David Letterman, mas não é nada disso: flagrantemente burro, preconceituoso. 

Vive de por alguns minutos tentar conversar com gente famosa &/ou inteligente, de fingir ser parte de uma coisa & de outra. Mas é só um vassalo do privilégio, agente dessa opinião de "massa cheirosa", como definiu uma covarde sua colega.

Nos termos da escravidão permanente do país, Bial é um feitor: o chefe manda, ele executa. Mesmo depois de "Dr. Roberto" (como chama aquele promotor da ditadura de 1964) morto, estende sua língua para que o dr. limpe os sapatos imundos nela.

Bem diferente a atitude que adota diante de uma artista contra o poder.

Seu ataque bem tosco a Petra Costa & a Democracia em Vertigem escancarou o brucutu por baixo da fantasia já meio rota de folgazão midiático. 

Não criticou o documentário premiado & revolucionário de Petra Costa, como alega: foi para cima dele com a voracidade de seus preconceitos, de sua convicção de privilégio. 

Chamou a responsável & corajosa diretora de "menina", para desqualificá-la, & com espesso acento misógino; como toda a extrema-direita deste triste país, chamou o documentário de "ficção alucinada", por medo de que o mundo comece a ter bem claro o golpe de 2016, apoiado por sua emissora & por ele mesmo, & que resultou em nazifascismo.

Agora, sofrendo o revés de seu ataque burro, mal-educado & rude, posa como vítima de "linchamento virtual". Diz que já sofreu isso antes, ele que "vive de acolher as opiniões das pessoas", isto é, os convidados de seu programa de propaganda do status quo.

Banca o macho das antigas para atacar a diretora brasileira, de sucesso internacional com um documentário que põe o dedo na ferida, & indicado ao Oscar, mas vira um bichinho assustado se mostram a ele um espelho. 

Bicho feroz, como ensinava Bezerra da Silva.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

UM GOVERNO NEONAZISTA

Quadragésimo-quarto mês
Ano V do Golpe
Ano III da Era Fascista





Roberto Alvim, Secretário Nacional da Cultura, acaba de publicar um vídeo no qual faz uma paráfrase de discurso de Goebbels, então ministro de Adolf Hitler.

Nazista, só para quem não se lembra.

Eu avisei. Sei que as pessoas não gostam que se diga, mas eu de fato avisei. Não acredita? Basta dar uma espiada aqui:



Alvim nos faz o favor de deixar explícita a vinculação ideológica. 

É discurso oficial, público, & ele deseja, com a aprovação do Bolsonazista, que se faça saber o que pensam, o que querem & o que se pode esperar deles.

O governo precisa sair, inteiro.

Ninguém o diz, para minha perplexidade, porque me parece que as pessoas esperam que aconteça novamente o que já aconteceu logo antes da Segunda Guerra Mundial.

Se esse não for o momento em que as pessoas se juntem & exijam a saída desse governo para evitar o pior, não será nenhum.

E daqui vai outro aviso para quem ainda não acordou: a continuar, vai piorar muito. Nazifascistas procedem avançando sempre que não encontram resistência. 

Estão avançando.

domingo, 10 de novembro de 2019

VIVA LULA

Quadragésimo-segundo mês,
ANO IV do Golpe
ANO II da Era Fascista



Lula foi solto. Nenhum favor: repor o que era cláusula pétrea da Constitiução antes da trapaça para prendê-lo a tempo de não poder se reeleger presidente não passa do mínimo de justiça num país que nem lembra mais o que o conceito significa.

Lula incomoda Bolsonaro, que ainda tem o fantasma de Marielle em seu encalço. Lula incomoda o novo Goebbels deste nosso admirável mundo velho, Bannon. Incomoda o putrescente ex-juiz überfascista que foi promovido por encarcerar o ex-presidente.

Lula é um perigo para o regime fascista que tenta se apoderar do mundo, em particular da América Latina, & Lula, por isso, também corre sério perigo.

Lula foi recebido por um oceano de gente efusiva; ele é o "maior líder popular do mundo", disse Chomsky.

Vamos ver o que acontece nos próximos capítulos: se o congresso vota a PEC da segunda instância com pressa, para deformar novamente a Constituição em favor do fascismo; se Lula consegue viajar para espalhar alguma esperança nesta renovada colônia de escravos, sem que psicopatas ataquem sua caravana. 

E terá ele carisma & força política suficientes para lutar contra interesses de financistas & banqueiros internacionais, a mídia de massas & as empresas de tecnologia alienante, fascistas & corruptos brasileiros, milicianos & debilóides, o agronegócio, a banda podre da justiça, o fascio-evangelismo?

É muita coisa simultânea, & não estou particularmente otimista. Mas é Lula. 

Vamos ver. 

terça-feira, 8 de outubro de 2019

QUE SEJAM PERIGOSÍSSIMOS

Quadragésimo-primeiro mês,
Ano IV do Golpe
Ano II da Era Fascista

LULA LIVRE



Johnny wants to suck on a coke
Johnny wants to think of a joke

Parte da crítica brasileira ao extraordinário Bacurau, de Kleber Mendonça e Julio Dornelles, & da crítica em toda parte a Coringa, de Todd Phillips, sugere que os filmes são perigosos.

Tanto no Brasil quanto nos EUA & elsewhere, quem escreve isso são pessoas dos lugares de poder fascista que infestaram o mundo, ou gente que está no triste esquema promovido pelo fascismo entre a chamada "intelligentsia", o esquema do antigo truque romano: o dividir para conquistar.

Espero que esses dois filmes sejam efetivamente perigosos. Estou torcendo para que sejam perigosíssimos.

Como disse Chris Hedges já em 2017: "aqueles que não forem capazes de fazer medo às elites do poder, não terão sucesso (...) Apelar à sua boa natureza é inútil: elas não a têm. Os dias adiante serão sombrios e assustadores". Mas complementa que, ao encarar o mal radical, sairemos vitoriosos, & só assim.

Aqui a fala completa:



Bacurau não é a violência bolsonarista invertida, como um idiota da imprensa disse idiotamente: Bacurau é a violência ancestral, acordada só em momentos decisivos de conflito já além de qualquer ajuste, é a cena em que o museu revida com suas armas arcaicas, porque a cultura, a verdadeira cultura, não é nem nunca foi inofensiva.

Coringa não é dúbio em flagrar a dissolução mental & social dentro do totalitarismo empresarial dos EUA: o filme anota sem deixar espaço para qualquer suspeita quem são os responsáveis por essa dissolução.

Mas não adula o resultado da dissolução, apenas anota o que acontece, como aliás estatisticamente se pode achar de modo rigoroso, científico, no livro fundamental de Thomas Piketty, O Capital no Século XXI, quando demonstra que, como efeito de períodos de extrema reconcentração de renda, de modo inevitável, se acham na História guerras civis, revoluções, guerras mundiais.

O desastre não é organizado, nem catártico: é um desastre. Bacurau ainda nos dá a catarse, que o Brasil como país nunca reagiu ao mal que se lhe fez (& que frequentemente faz a si mesmo, como agora), & precisa obviamente acordar para seu papel histórico, o que leva Mendonça a imaginar o Brasil retomando Canudos, o cangaço, as raízes de um brio ancestral, multiétnico, das questões nunca realmente enfrentadas, como a escravidão & seus efeitos muito presentes ainda (ou sobretudo) hoje.


Lunga não está para brincadeira

Que sejam filmes perigosíssimos, nos termos proféticos de Chris Hedges. 

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Io venni in loco di ogne luce muto

Trigésimo-nono mês,
Ano IV do Golpe,
Ano II da Era Fascista



LULA LIVRE



Não creio que seja necessário ter muita imaginação para comparar a cidade de São Paulo ao Inferno; ou qualquer metrópole: T. S. Eliot, logo após a Primeira Guerra, sugeriu a comparação entre Londres & aquele buraco atroz da nossa consciência.

MAS (& é um grande mas) nesta última segunda-feira pudemos ver aqui algo muito mais persuasivo, algo que nosso inverno pôde propor como ligação direta com inferno: o fogo do governo fascista & de seus comparsas latifundiários, o fogo daqueles que matam lideranças indígenas, foi esse o fogo queimando a Amazônia até as cinzas, essas que cobriram o céu da cidade do Sudeste ao ponto espantoso de roubar até mesmo as cores de tudo. 

Era uma escuridão durante o dia que eu mesmo jamais havia presenciado, a não ser assistindo a  Blade Runner (1982), de Ridley Scott, que aliás se passa neste mesmo ano de 2019. Ficcionalmente?



Me lembrei de imediato de um dos muitos versos célebres da Commedia: é, aquela escrita por Dante Alighieri, o florentino. É um verso do canto V, o que vai de título inevitável a esta postagem, e diz, em português: "Cheguei a um lugar mudo de toda luz".

É quando ele adentra o ar espesso do Inferno, "mudo de toda luz".

Quem duvidava da alcunha "o nosso Hitler", talvez reconsidere. A destruição da Amazônia nem precisará dos 4 anos infernais de seu desgoverno, vai morrer antes. Hoje já é provável que o atual dano seja irreversível, & prossegue.

Quem votou nele, eu dizia, tem sangue nas mãos. Quem deixou de votar na alternativa, também. Mas tem mais: estrangula o pescoço da vida, não só humana, não só animal neste planeta, mas toda a vida.

E isso não é um indivíduo estúpido no poder, uma figura repelente mas alegórica para dar sua cara feia a tapa, isso é o profundo Estado de escuridão que se apossou do poder & vem se enraizando nele desde 2016, com o golpe de Estado, & que desde lá mostra a que veio. 

Não por acaso, falando em escuridão, a foto que se tornou instantaneamente famosa de mais esse desastre é a de um tamanduá cego, tentando fugir do fogo destruidor, tentando se defender, foto de Araquém Alcântara. 

Tudo neste completo desastre de proporções mundiais é metáfora: é a cegueira, é a escuridão, é o inferno mudo de toda luz. 

Foi a esse ponto, penso que sem volta agora, que chegamos.