terça-feira, 21 de dezembro de 2010

HIPPIE HORRORSHOW



eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee all we are saying
eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee is give hippies a chance
eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee kenneth goldsmith

!
opiáceo & biodisponível,
eeeeeeeee o dr. leary hipnescândalo na tv,
eeeeeeeee como o coringa, mas em 72,
cadeia nele de agasalho & gargalhada entre dois policiais
dos velhos beasty boys de sabotage;
eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee manson ou mcluhan,
hipérboles & hypnópsis, não da divina mania
não furentes canunt, não como disse
ficino dos poetas; mas a “tamanha boca aberta”,
diria o mestre-escola horácio, démodé,
eeeeeeeee da montanha que paria o velho mickey.
hendrix divino: puro íon.

fading stars sob saturno aos 28 anos,
para se escolher entre morte ou morte, os soberanos
tiros ou demônios em hotéis, fogões a gás,
diante da massa-pudim de mentes-tubos-&-válvulas
numa guerra dos mundos
eeeeeeeeee [rasgar identidade nascimento burguesia]
eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee então
ao vento com canções de pés descalços
& pernas vadias badalando penduradas
sob holofotes na ilha de wight
eeeeeeeeeee (o que não tem a ver com tennyson) &
saltitantes satélites por exemplo o gordo ginsberg,
quando baco se mandou com olíbano e folhas de parreira
desistindo: pra mim chega da geléia oriental
― ele zanzou na índia & na tunísia,
eeeeeeeeeee o que se prova com mosaicos:
fumaça,
& fundilhos costurados, câmera na lama
da refazenda de grant wood
eeeeeeeeeeee [outrora cristãos duros, de madeira, envernizados
com o tridente de netuno ou do chifrudo
pra juntar montes de feno, os espantalhos:
matar amanhã
eeeeeeeeeeeeee amanhã
eeeeeeeeeeeeee o velhote inimigo de botas bem batidas];
as flores fracassam em seu feitiço
contra o terno gucci-yuppie
eeeeeeeeeeeeee e gente que aceitou bem o martírio
numa neblina de filmagens super-8 e nostalgia.
a imbecilidade ainda viva, neste mundo
ou na enxaqueca de júpiter:
eeeeeeeeeeeee tudo triste como a carne,
mesmo ou sobretudo quando queima: as duas religiões
eeeeeeeeeeeee que se consomem. ler john donne.

sábado, 18 de dezembro de 2010

DEAN MARTIN & A BATALHA DE TRAFALGAR SQUARE

Panic on the streets of London, cantava o Morrissey


Raspando a neve das minhas botas, q afundaram nessa brancura gelada q cobriu Londres desde manhã, penso nos eventos de pouco mais de uma semana.

Hoje as ruas estavam vazias, & eu ouvia apenas a neve caindo & os estalos da minha bota no chão gelado & fofo. Mas uma semana atrás, saindo daquele ótimo pub, o Garrick Arms, q fica logo acima da National Gallery, até mesmo o frio londrino (então seco) foi esquecido no calor da Batalha de Trafalgar Square.

A Batalha de Trafalgar foi a batalha marítima, em 1805, nas guerras napoleônicas, q sagrou o Major Nelson como herói inglês (postmortem, pq morreu nela), opondo A Marinha Real Inglesa, & franceses & espanhóis; na praça, Trafalgar Square, temos o obelisco com o Major em bronze no distante topo, certamente com uma vista incomparável da cidade.

Os estudantes, q prostestam contra o aumento das anuidades, fizeram da praça um lugar de protesto. Eu não sabia, no entanto: acompanhando os protestos anteriores, me esquecera desse. E assim, saindo com a minha prima do Garrick Arms, demos de cara com uma centena de manifestantes gritando "Fuck you" em uníssono. Não eram apenas os de balaclava, ou os com pedaços de madeira na mão: era toda a centena, q se dirigia a uma barricada da polícia.

Como não íamos ficar para a festa, descemos na direção da praça; já de certa distância, no entanto, víamos uma nuvem de fumaça espessa, vinda do outro lado do prédio da National Gallery. Para termos uma visão panorâmica melhor, subimos as escadarias de St. Martin in the Fields, de onde tivemos a impressão de q ainda mais manifestantes estavam na praça, ateando fogo à enorme árvore de Natal q a prefeitura instalou junto das fontes & dos famosos leões em Trafalgar Square.

Atravessando a rua, nos aproximamos para ver se era isso mesmo, & batemos a foto acima, no meio da confusão: verdadeira confusão, pq a polícia chegou para dar fim à fogueira, & víamos a roupa dos policiais reluzindo diante dos flashes q a multidão (manifestantes & curiosos & turistas) disparava tirando fotos. Os estudantes, em massa, agindo como se fossem um só, empurraram as grades metálicas de segurança sobre a polícia, & daí as pessoas começaram a correr.

Da parte de baixo da praça, vindos da Strand, três camburões surgiram a toda velocidade, com as sirenes berrando. A multidão se dispersava pela mesma Strand (q fora fechada para o tráfego pela polícia, montando outra barricada antes da Fleet Street) & ruas adjacentes. Alguns manifestantes se misturavam habilmente ao bando de gente, ou entravam em cafés & lanchonetes.

A estação mais próxima do metrô, Embankment, ficou lotada. Caminhamos à outra, Temple, & lá pegamos o Evening Standard, por onde ficamos sabendo q os confrontos haviam começado cedo em Westminster, haviam prosseguido pelo dia, & q haviam inclusive abordado o Rolls Royce em q a Duquesa da Cornualha & o Príncipe de Gales (vulgo: Príncipe Charles) iam até um teatro em Piccadilly, onde estivéramos poucos minutos antes.

Saldo de ossos quebrados, cabeças partidas, prédios pichados & quebrados, prisões, uma foto peculiar do ataque aos Rolls Royce & um racha na votação do projeto das anuidades, dentro mesmo do partido do governo, além de notícias de todo tipo cobrindo o assunto por uma semana. Em um dos debates de TV até mesmo Michael Moore apareceu, infernizando o apresentador com provocações & incentivando os estudantes.

E hoje, o mundo imerso em neve era puro silêncio & imobilidade - fora a batalha de uns moleques tacando bolas de neve uns nos outros -, uma espécie de sonho coletivo. Numa loja ouvi o velho Dean Martin cantando "Let it snow, let it snow, let it snow": parecia um comentário estranho de propaganda de shopping para famílias de propaganda, nos EUA dos anos 50, invadindo a Inglaterra de 2010.

E agora, damn it! estou com o Dean Martin na cabeça o tempo todo repetindo, canastríssimo: "Let it snow, let it snow, let it snow".

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

SOMEWHERE

Elle Fanning literalmente fazendo graça em Somewhere (2010), de Sofia Coppola.


O novo filme de Sofia Coppola, Somewhere, é um belo filme, um filme sutil, & acaba de estrear.

É o primeiro da diretora em q a vemos se repetir: trechos lembram quase diretamente Lost in Translation (2003), & mesmo a cena de pole dancing deve lembrar aos atentos o videoclip q dirigiu para os White Stripes, com a polevalente hipnótica Kate Moss.

Sou quase obrigado a dizer "não por acaso", a música (de Burt Bacharach & Hal David) tocada pelos Stripes se chama "I Just Don't Know What to do with Myself". Digo quase obrigado pq agora, alguns anos depois, é o mesmo q qqer um de nós dirá do personagem de Stephen Dorff.

Não acho q seja coincidência nem isso nem aquilo, & passo a supor q Coppola, ainda q de modo muito precoce, está fazendo, nos dois casos, auto-referência.

Auto-referência q é também, no caso, auto-ironia. O filme é todo pensado formalmente (basta reparar na abertura & no modo de encerrar), & nele um incidente se torna gracioso parêntese no desespero. Nesse sentido, o rigor silencioso de filmar o tédio como tal também faz referência a Marie-Antoinette (2006).

(O q também sublinha o fato evidente de q, embora então fizesse um filme "de época", se tratava de história do presente, as usual. Não q isso nos impeça de ganhar, em retrospectiva, alguma idéia fecunda sobre o século XVIII à beira da Revolução).

E Somewhere é um belo filme sobretudo pq não faz concessões para o respeitável público, & pq seu claro padrão formal não fica aparente como discurso. Mesmo a piscadela para "Somewhere over the Rainbow" é inteligente, exata & não-ostensiva.

A leveza da mão de Coppola, obviamente. E sua inteligência. E é preciso lembrar também a maravilhosa genética desse família Fanning: primeiro, Dakota, & agora, Elle. A menina é um primor de atriz, & embora Dorff faça bem o q deve fazer, o filme é a garota. Também, pq ela é vida, & ele está morto.

Figuradamente falando.

A trilha, vindo de diretora q, como Tarantino, entende do assunto, é direta ao ponto. Tanto q uma canção já mais do q suficientemente bela dos Strokes ("I'll Do Anything Once") ganha um momento verdadeiramente sublime.

Este é um dos filmes q merecem q se diga: "não percam". Até pq o cinema estadunidense ultimamente só sabe fazer filmes infantis (mesmo para adultos), & esse é, ao contrário, um filme q exige alguma experiência estética & de vida.

sábado, 11 de dezembro de 2010

PAIDEUMA e PRÉVIA POESIA




Hoje, às 15:30h na Casa das Rosas, há o lançamento duplo, durante aquele evento chamado Rave Cultural, de Paideuma (antologia de ensaios sobre escritores importantes para a poesia concreta, como Joyce, Mallarmé, Pound), & Prévia Poesia (coletânea de poetas brasileiros contemporâneos, vejam o repertório no convite acima).

São da Risco Editorial, levada por André Dick, publicada pela Secretaria de Estado da Cultura & Poiesis.

Em Paideuma, assino um artigo sobre Ezra Pound. Creio q Paula Glenadel fale sobre Mallarmé & André Dick sobre Joyce, entre outros.

Não estarei lá, porque estou aqui.
Não, acho q isso não ficou bem explicado, ou talvez demasiado bem.

Enfim. Aproveitem o calor tropical (eu aproveito o inverno londrino) para passear &, quem sabe, ver uns livros novos.
Gaudete.

Rave Cultural da Casa das Rosas
Dia 11 de dezembro, a partir das 14h

Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Avenida Paulista, 37 - próximo à Estação Brigadeiro do Metrô

Horário de funcionamento: de terça a sábado, das 10h às 22h
Domingos e feriados: das 10h às 18h

Convênio com o estacionamento Patropi: Alameda Santos, 74
Site: http://www.casadasrosas-sp.org.br