quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Io venni in loco di ogne luce muto

Trigésimo-nono mês,
Ano IV do Golpe,
Ano II da Era Fascista



LULA LIVRE



Não creio que seja necessário ter muita imaginação para comparar a cidade de São Paulo ao Inferno; ou qualquer metrópole: T. S. Eliot, logo após a Primeira Guerra, sugeriu a comparação entre Londres & aquele buraco atroz da nossa consciência.

MAS (& é um grande mas) nesta última segunda-feira pudemos ver aqui algo muito mais persuasivo, algo que nosso inverno pôde propor como ligação direta com inferno: o fogo do governo fascista & de seus comparsas latifundiários, o fogo daqueles que matam lideranças indígenas, foi esse o fogo queimando a Amazônia até as cinzas, essas que cobriram o céu da cidade do Sudeste ao ponto espantoso de roubar até mesmo as cores de tudo. 

Era uma escuridão durante o dia que eu mesmo jamais havia presenciado, a não ser assistindo a  Blade Runner (1982), de Ridley Scott, que aliás se passa neste mesmo ano de 2019. Ficcionalmente?



Me lembrei de imediato de um dos muitos versos célebres da Commedia: é, aquela escrita por Dante Alighieri, o florentino. É um verso do canto V, o que vai de título inevitável a esta postagem, e diz, em português: "Cheguei a um lugar mudo de toda luz".

É quando ele adentra o ar espesso do Inferno, "mudo de toda luz".

Quem duvidava da alcunha "o nosso Hitler", talvez reconsidere. A destruição da Amazônia nem precisará dos 4 anos infernais de seu desgoverno, vai morrer antes. Hoje já é provável que o atual dano seja irreversível, & prossegue.

Quem votou nele, eu dizia, tem sangue nas mãos. Quem deixou de votar na alternativa, também. Mas tem mais: estrangula o pescoço da vida, não só humana, não só animal neste planeta, mas toda a vida.

E isso não é um indivíduo estúpido no poder, uma figura repelente mas alegórica para dar sua cara feia a tapa, isso é o profundo Estado de escuridão que se apossou do poder & vem se enraizando nele desde 2016, com o golpe de Estado, & que desde lá mostra a que veio. 

Não por acaso, falando em escuridão, a foto que se tornou instantaneamente famosa de mais esse desastre é a de um tamanduá cego, tentando fugir do fogo destruidor, tentando se defender, foto de Araquém Alcântara. 

Tudo neste completo desastre de proporções mundiais é metáfora: é a cegueira, é a escuridão, é o inferno mudo de toda luz. 

Foi a esse ponto, penso que sem volta agora, que chegamos.




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