terça-feira, 8 de outubro de 2019

QUE SEJAM PERIGOSÍSSIMOS

Quadragésimo-primeiro mês,
Ano IV do Golpe
Ano II da Era Fascista

LULA LIVRE



Johnny wants to suck on a coke
Johnny wants to think of a joke

Parte da crítica brasileira ao extraordinário Bacurau, de Kleber Mendonça e Julio Dornelles, & da crítica em toda parte a Coringa, de Todd Phillips, sugere que os filmes são perigosos.

Tanto no Brasil quanto nos EUA & elsewhere, quem escreve isso são pessoas dos lugares de poder fascista que infestaram o mundo, ou gente que está no triste esquema promovido pelo fascismo entre a chamada "intelligentsia", o esquema do antigo truque romano: o dividir para conquistar.

Espero que esses dois filmes sejam efetivamente perigosos. Estou torcendo para que sejam perigosíssimos.

Como disse Chris Hedges já em 2017: "aqueles que não forem capazes de fazer medo às elites do poder, não terão sucesso (...) Apelar à sua boa natureza é inútil: elas não a têm. Os dias adiante serão sombrios e assustadores". Mas complementa que, ao encarar o mal radical, sairemos vitoriosos, & só assim.

Aqui a fala completa:



Bacurau não é a violência bolsonarista invertida, como um idiota da imprensa disse idiotamente: Bacurau é a violência ancestral, acordada só em momentos decisivos de conflito já além de qualquer ajuste, é a cena em que o museu revida com suas armas arcaicas, porque a cultura, a verdadeira cultura, não é nem nunca foi inofensiva.

Coringa não é dúbio em flagrar a dissolução mental & social dentro do totalitarismo empresarial dos EUA: o filme anota sem deixar espaço para qualquer suspeita quem são os responsáveis por essa dissolução.

Mas não adula o resultado da dissolução, apenas anota o que acontece, como aliás estatisticamente se pode achar de modo rigoroso, científico, no livro fundamental de Thomas Piketty, O Capital no Século XXI, quando demonstra que, como efeito de períodos de extrema reconcentração de renda, de modo inevitável, se acham na História guerras civis, revoluções, guerras mundiais.

O desastre não é organizado, nem catártico: é um desastre. Bacurau ainda nos dá a catarse, que o Brasil como país nunca reagiu ao mal que se lhe fez (& que frequentemente faz a si mesmo, como agora), & precisa obviamente acordar para seu papel histórico, o que leva Mendonça a imaginar o Brasil retomando Canudos, o cangaço, as raízes de um brio ancestral, multiétnico, das questões nunca realmente enfrentadas, como a escravidão & seus efeitos muito presentes ainda (ou sobretudo) hoje.


Lunga não está para brincadeira

Que sejam filmes perigosíssimos, nos termos proféticos de Chris Hedges. 

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