Uma dica para quaisquer artistas iniciantes: sua arte não importa, importa sua pose.
O artista precisa entender o seguinte: NINGUÉM lê, & se sua arte não precisar de leitura, deve lembrar que, igualmente, ninguém entende nenhuma outra linguagem. O que as pessoas guardam, porque é a única coisa reprodutível & guardável, é a sua pose.
Pode percorrer jornais, revistas & blogs, & v. encontrará sobretudo um catálogo de poses, legíveis & elogiáveis.
O que é a pose?
É criar um método simples de identificação da rubrica de seu nome, normalmente ligada a alguma grande questão (perdoem o vocabulário) que a sociedade reconheça, & que agite aqueles seus pares importantes & de mentalidade de gelatina.
De modo que: v não precisa ser um artista, v. não precisa fazer absolutamente nada se tiver o tino (q se pode desenvolver) de acertar a pose que tenha a cara da época (perdão novamente pelo involuntário esbarrão).
É o que vai atrair a atenção. Ler é muito custoso & grotescamente fora de moda, basta captar a atenção. A pose tem um bordão, ela é citável, muito econômica, & atrai parceiros importantes no negócio das artes, quaisquer artes.
Para acertar a pose, é preciso estar atento às tendências. Na poesia há algumas, que são sobretudo muito fáceis, então sequer é preciso se preocupar com trabalho.
A mais em moda é a pose de negar qualquer tipo de forma; escrever coisas que pareçam descompromissadas impressões fragmentárias, mas que arredondem sentido algum, porque é importante que v. negue qqer possibilidade de fechar qqer coisa. A gente é democrática & politicamente correta, & é isso q v. tem de afagar.
“Forma”, “qualidade” & mesmo “poesia” são coisas do passado, & o passado, além de démodé, é ... buenas, o passado. Agora v. está fazendo um experimento de linguagem, questionando coisas, insinuando levemente, sendo existencial, v. não quer que te confundam com uma coisa que não interessa. Qualidade é um vestígio ideológico de totalitarismos.
Por isso é importante também que você ande com a turma certa. Obviamente, você deve criar à sua volta uma aparência ecumênica, você se interessa por tudo & não julga nada, porque qualidade é um vestígio ideológico de totalitarismos. Mantenha uma voz discordante de si por perto, para manter as aparências, & apague o resto da vista.
Seja simpático, corteje os poderosos, mas tenha um ar indócil que sugira capacidade crítica: por um lado, v. terá as facilidades cômodas &, por outro, terá o nobilitante de parecer capaz de discernimento. Mas não se esforce — lembre-se de que é uma pose —, porque o verdadeiro discernimento lhe custará tudo: fama, dinheiro, amigos, possibilidades de publicação & leitura, etc.
Ignore, também, os inteligentes, os habilidosos & os que tiverem verdadeiro discernimento. Ignore sobretudo talentos maiores do que o seu, esses são o grande perigo, a se evitar a todo custo: primeiro, porque qualidade é um mero vestígio de totalitarismos, segundo, porque, oras bolas, estamos falando de você. De te fabula narratur.
E que essa última observação não passe de um lapso. Latim?
Lembre-se de que a maioria, angustiada, vive no futuro, uns vivem como a Regan, com a cabeça torcida para o passado, & que o presente está despovoado, porque teria de integrar as duas coisas.
Para aplicar o acima exposto às outras artes é ainda mais simples.
Em artes plásticas é quase impossível fazer de outro jeito. Você quer dinheiro & galeristas? Caso não queira, faça outra coisa; uma arte, por exemplo.
Em música — caso v. não faça música pop — basta perceber que o gosto do público parou em meados do século XIX, & seu mínimo público quer apenas isso de você, o estro sinfônico zanzando insensivelmente de um lado para o outro. Ou, ao contrário, um público ainda menor — se v. quiser adulação crítica — quer que v. faça tudo, menos melodia, porque o passado, além de démodé, é ... buenas, o passado.
Em prosa: incorpore uma ou outra coisa moderna, para mostrar que v. é sacado, mas mantenha a base do século XIX. No Brasil, ignore tudo isso: você só precisa escrever parágrafos mínimos, & usar um vocabulário de 1000 palavras no máximo. Fale sobre coisas ditas fortes, p.e., loucura, suicídio, uma paixão estilosa & agridoce, ou algum outro desses tópicos bacanas, & v. será considerado o gênio da semana.
Querendo agradar público maior, seja um cantor ou compositor famoso antes, & depois escreva qqer coisa (esse esquema é tão bom que funciona para a poesia & as outras artes também); ou apresente um talk show, & depois escreva qqer coisa. Escreva bonito, seja sentimental, fuja de períodos subordinados & quem sabe não tira a sorte grande de virar filme para um público ainda maior?
Nunca se culpe, nem pense duas vezes: você não é uma farsa. Se não fosse você, outro o faria. Você reflete a sua época. Não é o que se espera da arte?
Quem tem tempo para ler, para entender? É uma época de biografias com tom de fábula, com lição de vida ao fim; de revistas & jornais com fotos maiores do que os textos; quem tem tempo para desenvolver uma arte? É hora de ser mole com o uso de referências de celebridades, ou de fazer um experimento mole de linguagem. É ou não é?
Strike a pose, como disse Madonna sabiamente (& faz algum tempo, 1989).
O espírito de época. Você não sente a passagem do espírito de época? Está piscando para você. Ele quer te pegar pelos cabelos. É fácil. Colabore.